quarta-feira, 22 de maio de 2002

Hoje, sentei para ver o estava passando na televisão e peguei o final de um filme muito trash; nem sei o nome dele. Parece que era a história de um casal, formado por uma lésbica e uma bissexual, que dá uma festa do pijama para as amigas heterossexuais que conhecem desde a infância. Na festa, se desenvolve a trama de seus problemas femininos. Blaaarrrrgggg! Foi tão horrível quanto parece.

Mas, o melhor, foi o filme que passou depois. É um filme francês, semi-musical, chamado Aquela Velha Canção (On connaît la chanson – 1997), dirigido por Alain Resnais.

-----------> Nesse filme, os diálogos das personagens são entremeado com pedaços de músicas; antigas e bregas!!!! Funciona assim: um cara canta uma mulher, ela responde que ele fala isso para todas, ele insiste, e, da boca dela, sai aquela velha canção: Parole, parole, parole....

Algumas cenas são hilárias, pois, na verdade, os atores não cantam, mas dublam as versões antigas das músicas. E, às vezes, uma mulher canta com uma voz masculina e vice-versa. Talvez esse seja uma opção divertida de filme para quem não quer compromissos com a vida. Mas, nunca assista junto de Les Parapluies de Cherbourg (direção: Jacques Demy - 1964)

– seriam canções demais...

Uma parte do filme que me tocou especialmente foi uma seqüência protagonizada pelas irmãs-mocinhas do filme e pelo pseudo-canalha.

Odille (a irmã mais velha) – Camille é o gênio da família. Estou muito orgulhosa, pois ela vai defender sua tese de doutorado dia 28.
O pseudo-canalha (não lembro seu nome) – É mesmo??? E sobre o que é?
Camille (a irmã mais nova, historiadora) Cansada de responder a esta pergunta e ver, em seguida, a cara de seu interlocutor virar um grande sinal de interrogação. – É sobre os cavaleiros do Lago (?), no ano mil. Mas, em quê que isso te interessa??!!??
O pseudo-canalha (não lembro seu nome) – Em nada. Perguntei por conveniência.
Camille (a irmã mais nova, historiadora) – Pois é, se não interessa, por que perguntou?
O pseudo-canalha (não lembro seu nome) – Para ser gentil.
E aí começa uma briga.

(diálogo re-inventado de acordo com o que a memória e a conveniência permitem)

Mais tarde, o namorado de Camille, o verdadeiro canalha: - Mas alguém se interessa por isso? Para que escrever sobre algo que não interessa a ninguém?

Mais tarde ainda, depois que ela defende sua tese – superbe! – e entra em depressão pós-parto, alguém se interessa por publicar o trabalho. E ela se pergunta: – Publicar algo que interessa a 15 pessoas???

Fora para servir de motivo para conversas entre Camille e um homem que é fascinado por ela, por história e que escreve dramas para o rádio (ou seja, que faz algo tão sem público quanto ela), me pareceu que a serventia dos cavaleiros do ano mil se restringia a agradar àquelas outras 15 pessoas, e a ser o orgulho do pai e da irmã desta mulher. 15 pessoas!!!! Se houvesse apenas uma, a própria Camille, que se interessasse por esta história, para mim, o trabalho já teria sua razão de existir. Ou não?

Outro destaque do filme é este quadro, que aparece no fundo de um bar, na cena do atropelamento do velhinho:

Alguém o reconhece???

No mais, o filme é bem divertido, e seu roteiro é daqueles que tomam caminhos sempre inesperados. Gostei.