sábado, 4 de fevereiro de 2006

esquentando os tamborins
sou, ou não sou, piada de salão?

(São Jorge e o Dragão - Rogier van der Weyden)

Ao escrever não posso fabricar como na pintura, quando fabrico artesanalmente uma cor. Mas estou tentando escrever-te com o corpo todo, enviando uma seta que finca no ponto tenro e nevrálgico da palavra... Antes de mais nada, pinto pinturas. E antes de mais nada te escrevo dura escritura. Quero como poder pegar com a mão a palavra. A palavra é objeto? E aos instantes eu lhes tiro o sumo de fruta. Tenho que me destruir para alcançar cerne e semente de vida. O instante é semente viva. (Água Viva - Clarisse Lispector)
Hoje, travo mais uma batalha. A batalha que é batalha-de-cada-dia. Hoje, me bato pela palavra. Como domar a palavra? É possível fazer dela pintura? Ou é melhor deixá-la palavra. Pura e simples? Nessa dúvida, estanco. O fluxo pára. E as palavras fazem bola no meu peito. Uma bola de pêlo. Se, ao menos, elas saíssem pela boca, escorressem pelos dedos. Haveria alívio.