segunda-feira, 31 de julho de 2006

já que a regina perguntou...

dispois, se uma broca sobrevive aqui? depende... uma broca pluriétnica certamente vai morrer pela boca. todo domingo vamos a uma feira étnica em bruxelas. primeiro, passamos pela grande tv de cachorro: enormes caminhões que as laterais se abrem, revelando forninhos com uma centena de frangos rodando e tomando um bronze, ao ar livre... frangos dos mais variados sabores, que ainda não tive coragem de provar, pois não sei bem das condições de preparo e armazenamento...

depois, chegamos às barracas de frutas dos marroquinos. tenho comido muita cereja (da doce e da azeda), pêssegos de diversas e dulcíssimas espécies, e um tipo de ameixa daqui, que é verde, mas de.li.ci.o.sa!!

depois, passamos no italiano, para comprar verduras. tem umas verduras daqui que são gostosas, mas com nomes que ainda não consigo guardar. tem outras que parece que você está comendo dente de leão com capim manteiga.

beringelas e tomates, pelo menos 3 variedades de cada, que se preparam de inúmeras formas diferentes. a esposa do meu orientador é apaixonada por beringela, e quando descobriu que também sou, usou isso de desculpa para fazer todo dia. é beringela grelhada, salada de beringela, dá-lhe beringela. outro dia fomos a um supermercadinho dos turcos (que, aliás, têm os açougues mais limpos que vi), para comprar tahine para fazer o quê? BERINGELA!

a única coisa que ela lamenta é não ter aqui um tipo de beringela que ela pode preparar como a avó dela fazia, aí em Marília. é uma receita japonesa (a avó nasceu lá), de beringela crua, "cozida" apenas com sal. parece bom.

bom, voltando ao mercado, lá tem também barraquinhas de azeitonas e frutos secos dos árabes. ai ai.

e inúmeras outras coisas, como queijos, carnes e peixes. essas últimas coisas a gente não compra, por conta da higiene. o peixe invariavelmente tem moscas (mesmo na feira aqui de leuven) e cheira mal.

mas, mesmo que você não goste, tenho que dizer que estamos na temporada de mexilhões. hummm. delicia. a esposa do professor fez pra gente mexilhões cozidos no salsão. meus deus do céu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

aliás, se ela não me matar de tanto comer, o marido dela me matará de tanto beber. até agora foram (além de diversos aperitivos) vinhos argentinos, franceses, espanhóis, chilenos, etc.,etc.,etc.

no mais, eles trouxeram do japão uns salgadinhos de soja, cobertos de gengibre, e azeitonas de valência, que me matam.

queijos: comprei gouda, ementhal e camembert. e ganhei um pedaço de queijo minas.

o jantar de ontem foi coelho assado com limão cozido no açúcar (coisa da barraquinha dos árabes), com mandioquinha africana frita. e, de sobremesa, biscoitos amanteigados belgas. hummmm!!

aliás, os sorvetes são bons, mas nada que se compare com os nossos.

no mais, tenho emagracido um pouco, pois faço tudo a pé, e tenho feito somente duas refeições leves por dia (quando não vou jantar com eles), por conta do calor.

os doces e chocolates que vejo pela rua são lindos. só provei, até agora, a torta das ameixas verdes, que meu orientador comprou para que eu experimentasse. no mais, estou esperando o daniel chegar. pois sei que ele vai me fazer comer tudo. então, que eu emagreça de antemão...

no mais, beijos e sodades

René

quarta-feira, 26 de julho de 2006

para imprimir e colar na porta de casa


uma promoção Ajax Festa das Flores

responder é preciso

Creio que o comentário do meu irmão, categoria anta jùnior, merece uma resposta. Não pelo tom provocativo, mas por suscitar histórias. Histórias, pois bem, histórias. Estou aqui para completar as pesquisas para meu doutoramento em História, mas vou acaber é mestre em narrar histórias e estórias de vida. Pois, a maior parte do tempo em que estou em frente ao computador são dedicadas à saciar os anseios tupininquins, que em coro cantam:
Mande notícias do mundo de lá!
Diz quem fica...
E tem horas que só posso dizer:
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Então, nada de novo no front. Só a repetição desse nosso velho tema tão banal: calor e higiene.
Pois bem, admito que gosto de banho mais do que índio. Mas, devo dizer, como não sou bobo, aqui não ponho minhas barbas de molho. Tenho medo do preço da àgua, por isso me tornei o viciado em economia desse bem não tão natural e nem tão renovável aqui nesse mundo de Oh, meu Deus!
Nos primeiros dias, nada de traumatizar a população local. Foi um banho por dia, olhe lá. Naquele estilo: abre torneira, se molha; fecha torneira, se ensaboa; abre torneira, enxágüa.
Depois que me mudei, também mudei de hábitos. Dois banhos por dia, no mesmo esquema. Esse luxo não é produto do puro desvairio higienizante brasileiro, nem mesmo por alguma obsessão por água. Mas, puro reflexo do aumento da temperatura local dos 28 para os 34 graus.
O que não consegui conter, foi o impulso de limpar meu pequeno estúdio, logo que nele entrei. Quando me entregou as chaves, a proprietária (que é sempre muito solícita e de quem nada devo reclamar), me disse sorrindo: passei ontem o dia inteiro limpando o estùdio. Que bom, pensei.
Mas, por precaução, fui passar um paninho dentro do armário, antes de colocar minhas coisas - o paninho, de amarelinho, tornou-se cinzinha, quase pretinho. Não deu outra: passei a mão no meu vidro de dois litros de Ajax Festa das Flores (cuidadosamente escolhido no supermercado para que seu perfume não me causasse alergia - quanta frescura), e virei um tanto num balde. Acrescentei ÁGUA (olha a conta, seu herege!). Peguei uma bucha, e esfreguei. Esfreguei o armário, esfreguei o armário da cozinha, esfreguei as portas, esfreguei os acendedores de luz, esfreguei os lustres. De tudo escorria um caldo preto, que eu guardaria como nanquim, se uma caneta tinteiro tivesse. O lustre da cozinha, então, me tomou uma hora. Era um tal de dez anos de poeira misturado com óleo de fritura... no fim, parecia novinho, branquinho, branquinho.
Depois, foi a vez do chuveiro. Ou melhor, a ducha. Minha ducha é uma espécie de grande lata de sardinha branca que fica de pé dentro de um quartinho. A gente entra nela, abre a torneirinha de ÁGUA quente, depois e de ÁGUA fria, e pá pá pá pá pá toma banho, com aquele barulhão de ÁGUA caindo em lata (hoje esse barulho diminuiu um pouco, pois a senhoria me deu um tapete de plástico pra pôr lá dentro, que amortece o bombardeio de ÁGUA). Explicada a ducha, passo para a narrativa de sua limpeza.

Quando fui ao supermercado, comprei um produto fortíssimo, com desinfetante e o filho mais moço do diabo à quatro, para limpar minha lata de sardinha. Esse é um produto muito comum aqui, que serve para tirar o que eles chamam de calcário, dos metais da casa, como torneiras. Ou seja, pra tirar aquelas coisas brancas que se acumulam nos metais que ninguém limpa. Minha latinha tinha muito calcário. Calcário branco, calcário preto, calcário marrom. Muito calcário, muita craca mesmo.

Previnido, mas sem as tais barbas de molho, aproveitei minha ida às lojas Bloker (a versão local das Lojas Americanas), para comprar, na promoção, uma escovinha de limpeza. Escovinha na mão, produto contra cracária, e ÁGUA, parciomosiosamente gasta. Esfrega, esfrega, esfrega, e sai aquele caldo preto, agora com partículas sólidas de craca. Por fim, tirei tudo das partes da ducha em: que encosto. Ficou um restinho para a próxima tentativa. Meu espírito indígena vencido pelo cracário.
Ni qui acabei, tava exausto. Achei melhor ir dormir, e continuar minha saga na manhã seguinte. Dia seguinte, foi a vez do chão. Comecei com um paninho úmido, a Ajax Festa das Flores. Termeinei lavando duas vezes o chão, com um balde de ÁGUA, e Ajax. As flores fazim uma "reivi" lá dentro...

Foi quando comecei a reparar meis no prédio onde moro. Ao se entrar nele, sentimos o cheiro da cozinha comunitária (que é das mais limpas que vi aqui). É um misto de lixo acumulado com bafo de comida feita com as janelas fechadas. Assim, logo alcança-se a escada, que felizmente não tenho que usar, pois moro no térreo. A dita escada tem um carpete bi-color: vinho onde se pisa, cinza com floquinhos de poeira, onde ninguém toca.

Passando por isso, sentia-se o odor do banheiro comunitário (atualmente já visitado pela Festa das Flores). Depois, você ouve uma música eletrónica vindo de uma porta, luzes coloridas saindo pelas frestas da mesma. Ao entrar: A FESTA DAS FLORES.

Um tupiniquim em seu paraíso artificial.

Hoje, o que mais medo me dá não é a Nazareth, mas sua escada...

Pararauê-re-re-re-re-re-re-re-re……………………………….

terça-feira, 25 de julho de 2006

o scrap do dia - versão completa

Mi,
tô aqui com uma bolsa sanduíche, vivendo de comer sandubão!
Francês? Hahaha!
Aqui se fala flamengo!
Ao menos em teoria, pois tem lugar que arrisco um flamenguinho básico, noutros um francês pedestre. Mas, no geral, estou me comunicando bem com meu inglês de pedreiro checheno, trabalhando em Bariloche!
No banco, e com um dos meus orientadores, converso em espanhol.
Mas, o que estou praticando mesmo é o português. Vou sair daqui falando português fluentemente. A família do meu outro orientador fala português, a mulher dele é de Marília. E tenho frenqüentado muito a casa deles. A secretária do departamento tb fala português, isso sem contar com uma verdadeira comunidade brasileira que há aqui...
Eu estava pensando em conhecer a Austrália, mas ouvi dizer que o número de sinistros no trânsito aumentou enormemente. Melhor ficar por aqui!
Beijos

segunda-feira, 24 de julho de 2006

fragmento aberto, de carta pessoal

...e eu aqui... nesse fim de primeiro mundo. super cafoninha, pois me recuso a usar as meias pretas com o tenis branco. na verdade, estou "super out, meu bem", pq diz um dermatologista daqui que tomar muito banho faz mal... no super, eu passo super longe das pessoas, pois meu cheiro de sabonete pode ferir o olfato alheio.

istro dia, eu tava chegando na faculdade, e passei em frente à praça, quando uma moça parou no meio do caminho, procurando uma coisa na bolsa. como era cedo, ela, como muita gente, levava seu pão, sem embalagem, dentro da bolsa. sem cerimônias ela se abaixou, tirou o pão da bolsa, pôs no meio fio. pegou o que queria, guardou o pão novamente. e foi-se. pois bem, a estória do pão no chão não é lenda urbana.

e é por isso que meu orientador choca os alunos dele, dizendo q o Brasil precisa dar aulas de civilidade pra Bélgica...

e o calor continua saárico. outro dia, ouvi um senhor dizer ao seu namoradinho que um africano estava reclamando do calor. e ponderou, preconceituosamente: essa gente mora perto do deserto, e vem reclamar do calor aqui?

pois, eu me sinto em Salvador eô-eô...

um brasileiro ligou de Paris e disse que a cidade estava insuportável. tudo cheira a xixi e c.c.! C'est Paris: trashchicm, mon fils...

vi na tv uma reportagem sobre o 0800 de informações sobre o calor. Uma velhota, à qual não beijarei, perguntava ao atendente o que ela deveria fazer para manter a saúde (quiçá a sanidade). O moço respondeu em bom francês: você terá que estar tomando ao menas um litro de água por dia.

- isso tudo, meu filho? eu não consigo...
- mas, vai estar sendo preciso...
- tu tu tu tu...

Depois o povo fica com dó das velhotas desidratadas, em pó ou defumadas que são encontradas, dias depois, mortas em casa...

no mais, beijos nas crianças

René