sexta-feira, 26 de agosto de 2005

MOTO CONTÍNUO
(Edu Lobo - Chico Buarque)

Um homem pode ir ao fundo do fundo do fundo se for por você
Um homem pode tapar os buracos do mundo se for por você
Pode inventar qualquer mundo, como um vagabundo se for por você
Basta sonhar com você
Juntar o suco dos sonhos e encher um açude se for por você
A fonte da juventude correndo nas bicas se for por você
Bocas passando saúde com beijos nas bocas se for por você
Homem também pode amar e abraçar e afagar seu ofício porque
Vai habitar o edifício que faz pra você
E no aconchego da pele na pele, da carne na carne, entender
Que homem foi feito direito, do jeito que é feito o prazer
Homem constrói sete usinas usando a energia que vem de você
Homem conduz a alegria que sai das turbinas de volta a você
E cria o moto-contínuo da noite pro dia se for por você
E quando um homem já está de partida, da curva da vida ele vê
Que o seu caminho não foi um caminho sozinho porque
Sabe que um homem vai fundo e vai fundo e vai fundo se for por você
meu rosto é essa máscara que ponho para te afligir, para te encantar, para te afastar, para te atrair, para te esquecer. muitas vezes esses sucessos são involuntários, tão involuntários quanto o sentimento que os movem. e me pego dizendo o que não queria expressar, mesmo sem abrir a boca. então, atenha-se ao olhar, ele diz o que os músculos enganam. ao menos, essa é minha verdade.
- Mas nós que vivemos no corpo vemos com a imaginação do corpo as coisas desenhadas a traço. Vejo rochas ao sol claro. Não posso levar esses fatos para dentro de alguma caverna e, tapando os olhos, fundir seus amarelos, azuis e cor de ferrugem em uma só substância. Não posso ficar muito tempo sentada. Preciso levantar-me de um salto e partir... Solto todos esses fatos - diamantes, mãos mirradas, potes de porcelana e o resto - como um macaco solta nozes de suas mãos peladas. Não posso dizer-lhes se a vida é isso ou aquilo. Vou sair para a multidão heterogênea. Serei golpeada; erguida e baixada entre os homens, como um navio no mar.

(As Ondas - Virgina Woolf)