terça-feira, 5 de setembro de 2006

Afro-american broca,

assim você me mata. Já morro, naturalmente, de saudades da península, da ibérica e de outras tantas; perdido que estou nessa terra de bárbaros. A saudade é tanta que corro o risco de provar as ostras nativas...

Aqui, é época de moules, ou mousselen, se você preferir o flamengo ao francês. Mexilhão, no bom português. Já comi moules da França, e da Zelândia. As da zelândia, dizem, estão a cada estação piores e menores (tem umas que você precisa de lupa pra achar), e os produtores colocam a culpa no tempo, no governo, em qualquer um que estiver passando pela frente. Depois de anos desaparecidas, as moules belgas voltarão ao mercado, em breve. Vamos experimentar. Mas, não espero grande coisa, pois, como é sabido, fora as ameixas, fritas e o chocolate, nada da bel-zica é bom. A carne não tem gosto. Os tomates são pura àgua. As maçãs... bem, para as maçãs inventaram uma moda, a da maçã crocante: crocante e saborosa como uma prancha de isopor.

As cerejas estiveram ótimas. Mas, já passou a época.

O bom daqui é que é fácil encontrar comida de qualquer lugar. Então, no supermercadinho, ou no supermercadão, podemos encontrar desde carnes ruins, como a belga e a australiana, até excelentes, como a brasileira e a argentina. Tem mandioca da África, pequi brasileiro, café do sul da Bahia ou de Lambari, chá chinês e vizinhas de Taiwan, que são umas gracinhas.

O povo, em geral, não come muito, e bebe demais. Eles tomam café da manhã, comem um sanduiche meio-dia, e jantam - bife com fritas, moules com fritas, croquete com fritas, qualquer coisa com fritas, ou macarrão. Sempre macarrão. Comida em restaurante não é lá grandes coisas. E, um croque-monsieur (um misto quente bem normalzinho), custa uns 4 euros. E nem chega aos pés dos nossos iche iches.

Os queijos são ótimos, mas esqueça que existe boa mussarela no mundo. A melhor daqui é pura borracha. Por isso, ainda não me atrevi a experimentar uma pizza. Para essas coisas, em geral se usa um ementhal jovem.O melhor queijo que comi, foi um de cabra, jovem e espanhol - humm, delícia. E um pyrenée de leite de vaca. Bom também.

Tenho bebido vinho espanhol, francês e muito, mas muito, muito mesmo vinho argentino. Alguns excelentes, por sinal.

Já as ameixas, existe quase que uma variedade para cada cidade. Imagino que quase todas inventadas artificialmente. Pois, as coisas aqui são tão artificiais que surgiu a moda da comida "biológica", ou seja, comida de verdade. Tem um tipo de vaca belga, por exemplo, que tem uma bunda tão grande, que quase nunca a levam ao pasto. Toda vez que minha recém-amiga carioca diz que, aqui, sempre aparece uma vaca no nosso caminho, lembro dessas vacas; embora ela se refira a "essaish vacaish; sempre mulhereish e flamengaish"...

Outro dia, fui num aniversário. Muita feijoada, das boas, farofa, vinagrete e COUVEEEE!!! Ataquei a couve com toda a minha vontade. Que decepção. Nem pra de Bruxelas aquela couve servia... Parecia chicória (chicon, não sei se em flamengo essa chicon do café é a witloof que usamos na salada) torrada, que os velhos colocam no café ralo, para parecer forte. Era algo aguado, e meio azedo.

O difícil também é viver sozinho. Pois comprar enormes quantidades sai muito mais barato que comprar minúsculas quantidades de qualquer coisa. Hoje, por exemplo, tenho um quilo de witloof na geladeira, e meio quilo de ameixas roxas. Isso depois de ter comido duas caixas de champignons e um monte de mexerica (ou mexirica ou mixirica, dependendo do seu corpo-lheis) africanas.

E, por fim, qualquer coisa aquí, é diferente daí, ou d'acolá. O shoyu escuro é doce e com pouco sal. Nem imagino o light...

Por falar em light, nada aqui é light, fora refrigerante (aproveitando, aquí tem coca baunilha, será bom?). Dificilmente se acha um adoçante como os daí. E é sempre caro. Por isso, adotei os torrões de açúcar. Depois de quase dois meses usando o de beterraba, comprei os de cana, e achei muito doce. Digo, o açúcar "como" o nosso, pois també comprei o candi, "como" o oriental.

Adorei o candi belga - são pedrinhas de açúcar de tamanho e forma irregulares, que existem nas cores branco (translúcido), ambar e preto. O âmbar fica lindo dentro do chá... e ele não adoça tanto.

No mais, vou levando. Saudades dos meus, beijos nos seus.

René