domingo, 29 de dezembro de 2002

Artes Liberais


não sou prático,
canudo tenho.
acadêmico,
meu bisturi
exato não mostra
o pulso do
vivo
coração.



Já que o assunto me cerca, e inútil é tentar fugir, vamos direto a ele... É fim de ano. Época de saldos e balanços. Até aí, tudo bem. Pois, e o ditado como é? Festa acabada músicos a pé.


Feliz Natal e

que em 2003 o sucesso te acompanhe

em todas

as seleções, pesquisas, qualificações, dissertações, teses, bancas, defesas,

e em todos

os trabalhos, papers, contatos, congressos, seminários, etc.


Este foi uma muito simpático e sarcástico e-mail que recebi. Neurei. Será que a vida vai acabar em mestrado. Pizza seria melhor. Monstrei. O pior é o sentimento de que todo este trabalho talvez seja vão. Alguém pode fazê-lo melhor. Ou não fazê-lo. Afinal, a quem isso interessa? A mim. E isto só já basta como justificativa... mas eu quero mais. Quero (e me esforço para) que outros também se interessem. Há quem tenha gostado do meu trabalho. Ou de fragmentos dele. E isto me ajuda prosseguir. Que tudo dê certo, e a dissertação seja um tesão. Quanto ao monstrado, fica o protesto - sob a forma do texto abaixo, que a Miriam me mandou. As coisas não precisam ser assim... vivas à dissertação-tesão, e à minha próxima libertação!


UMA TESE É UMA TESE


Sabe tese, de faculdade? Aquela que defendem? Com unhas e dentes? É dessa tese que eu estou falando. Você deve conhecer pelo menos uma pessoa que já defendeu uma tese. Ou esteja defendendo. Sim, uma tese é defendida. Ela é feita para ser atacada pela banca, que são aquelas pessoas que gostam de botar banca.
As teses são todas maravilhosas. Em tese. Você acompanha uma pessoa meses, anos, séculos, defendendo uma tese. Palpitantes assuntos. Tem tese que não acaba nunca, que acompanha o elemento para a velhice. Tem até teses pós-morte. O mais interessante na tese é que, quando nos contam, são maravilhosas, intrigantes. A gente fica curiosa, acompanha o sofrimento do autor, anos a fio. Aí ele publica, te dá uma cópia e é sempre – sempre – uma decepção.
Em tese. Impossível ler uma tese de cabo a rabo. São chatíssimas. É uma pena que as teses sejam escritas apenas para o julgamento da banca circunspecta, sisuda e compenetrada em si mesma. E nós? Sim, porque os assuntos, já disse, são maravilhosos, cativantes, as pessoas são inteligentíssimas. Temas do arco-da-velha. Mas toda tese fica no rodapé da história. Pra que tanto sic e tanto apud? Sic me lembra o Pasquim e apud não parece candidato do PFL para vereador? Apud Neto. Escrever uma tese é quase um voto de pobreza que a pessoa se autodecreta. O mundo pára, o dinheiro entra apertado, os filhos são abandonados, o marido que se vire. Estou acabando a tese. Essa frase significa que a pessoa vai sair do mundo. Não por alguns dias, mas anos. Tem gente que nunca mais volta.
E, depois de terminada a tese, tem a revisão da tese, depois tem a defesa da tese. E, depois da defesa, tem a publicação. E, é claro, intelectual que se preze, logo em seguida embarca noutra tese. São os profissionais, em tese. O pior é quando convidam a gente para assistir à defesa. Meu Deus, que sono.
Não em tese, na prática mesmo. Orientados e orientandos (que nomes atuais!) são unânimes em afirmar que toda tese tem de ser - tem de ser! - daquele jeito. É pra não entender, mesmo. Tem de ser formatada assim. Que na Sorbonne é assim, que em Coimbra também. Na Sorbonne, desde 1257. Em Coimbra, mais moderna, desde 1290.
Em tese (e na prática) são 700 anos de muita tese e pouca prática. Acho que, nas teses, tinha de ter uma norma em que, além da tese, o elemento teria de fazer também uma tesão (tese grande). Ou seja, uma versão para nós, pobres teóricos ignorantes que não votamos no Apud Neto. Ou seja, o elemento (ou a elementa) passa a vida a estudar um assunto que nos interessa e nada. Pra quê? Pra virar mestre, doutor? E daí? Se ele estudou tanto aquilo, acho impossível que ele não queira que a gente saiba a que conclusões chegou. Mas jamais saberemos onde fica o bicho da goiaba quando não é tempo de goiaba. No bolso do Apud Neto? Tem gente que vai para os Estados Unidos, para a Europa, para terminar a tese. Vão lá nas fontes. Descobrem maravilhas. E a gente não fica sabendo de nada. Só aqueles sisudos da banca. E o cara dá logo um dez com louvor.
Louvor para quem? Que exaltação, que encômio é isso? E tem mais: as bolsas para os que defendem as teses são uma pobreza. Tem viagens, compra de livros caros, horas na Internet da vida, separações, pensão para os filhos que a mulher levou embora. É, defender uma tese é mesmo um voto de pobreza, já diria São Francisco de Assis. Em tese.
Tenho um casal de amigos que há uns dez anos prepara suas teses. Cada um, uma. Dia desses a filha, de 10 anos, no café da manhã, ameaçou: – Não vou mais estudar! Não vou mais na escola. Os dois pararam – momentaneamente – de pensar nas teses. – O quê? Pirou?
– Quero estudar mais, não. Olha vocês dois. Não fazem mais nada na vida. É só a tese, a tese, a tese. Não pode comprar bicicleta por causa da tese. A gente não pode ir para a praia por causa da tese. Tudo é pra quando acabar a tese. Até trocar o pano do sofá. Se eu estudar vou acabar numa tese. Quero estudar mais, não. Não me deixam nem mexer mais no computador. Vocês acham mesmo que eu vou deletar a tese de vocês? Pensando bem, até que não é uma má idéia!
Quando é que alguém vai ter a prática idéia de escrever uma tese sobre a tese? Ou uma outra sobre a vida nos rodapés da história? Acho que seria um tesão.

(Mario Prata - crônica publicada no jornal O Estado de São Paulo, 7 de outubro de 1998)


No mais, estou



Exausto

Eu quero uma licença de dormir,
perdão para descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.

(Adélia Prado - Bagagem)


Muito antes de Sérgio Buarque,
muito além da Holanda...

Até mais!

Não sei porque... mas essa canção me lembra o Schroeder.

O que você achar Marcie?


A MULHER BARBADA


Com o que será que sonha
A mulher barbada?
Será que no sonho ela salta
Como a trapezista?
Será que sonhando se arrisca
Como o domador?
Vai ver ela só tira a máscara
Como o palhaço

O que será que tem
O que será que hein?
O que será que tem a perder
A mulher barbada?

(Adriana Calcanhotto - interpretada com Los Hermanos)



Schroeder
recebendo aplausos

Se não levado à sério, este psicossodomita até que tem uma tiradas legais.
Juro que tive a idéia antes!



Mas eles têm o crédito de executar primeiro, e melhor:

DANCEMOS
UM TANGO FELIZ

O que deu em mim??

Deixemos espírito de Papai Noel entrar em nós,

e mudemos de assunto:

Meus amigos

e demais desconhecidos



Feliz Natal e um Ótimo 2003!!


(voz em off) - Melhorou?


ELEGIA 1938

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.

Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, e concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar a tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.


(Carlos Drummond de Andrade - Sentimento do mundo)
A liberdade do diálogo está-se perdendo. [...] ela é agora substituída pela pergunta sobre o preço dos sapatos ou de seu guarda-chuva. [...] É como se se estivesse aprisionado em um teatro e se fosse obrigado a seguir peça que está no palco, queira-se ou não, obrigado a fazer dela sempre de novo, queira-se ou não, objeto do pensamento e da fala”: (Walter Benjamin)


É isto o que me espanta! Perdemos a capacidade de nos comunicar. É isto que faz das filas costumazes do fim-de-ano insuportáveis. Ficamos lá, parados, humanos atrás de humanos, à espera, como bois, do fim registrado no nosso abate pela moça do caixa. E, como bois, ruminamos o capim de nossas próprias cismas. Ficamos ali, alheios, a cismar. E, se a alguém escapa uma palavra, e esta palavra a nós se dirige, pensamos: Que saco!; ou Humm! Pois consideramos, e muitas das vezes constatamos, que tal palavra ou era da raça inquieta das ponderações mau-humoradas e das reclamações pontuadas, ou era da estirpe de um flerte. Estranhamos mesmo é quando a dita palavra assume a forma de um comentário, casual, que se esboça para dar início a uma amistosa conversa. Jogar conversa fora! ... para passar o tempo. – diria-se antigamente. Perda de tempo! – bufamos hoje. Ser amistoso, companheiro, simpático, é vergonhoso. Já foi condição de vida, quando a vida ainda se prendia e se fazia ao largo da convivência e interdependência comunitária. Já foi vergonhoso, quando os malandros de outrora diziam ser independentes e astutos o suficiente para viver sem depender de ninguém, mesmo quando viviam às custas daquele bom e velho amigo, ou de um desavisado “cliente”. Mas nunca tanto desprezo foi destinado a estas palavras como hoje - a era da comunicação. Acostumamo-nos a este ritual cênico da mínima palavra, a esta etiqueta social (a etiqueta do preço), sem a questionar. O rádio e a televisão já uniram pessoas – mesmo que tal união resultasse apenas em comentários – e que entusiásticos e plenos de vida e certezas eram – sobre a novela e o jogo de futebol. E, mesmo assim, a tv e o rádio continuam alvo da crítica apocalíptica que neles vê apenas a desagregação dos valores e das famílias. E a internet, essa grande praia onde muitos se banham e surfam sem nunca se ver? Esta pretendia aproximar as pessoas, educá-las, informá-las: a maior, mais rápida e mais eficaz rede de comunicações. O resultado: o nascimento da era da maior solidão, do mais profundo isolamento, da tele-pizza e do amor eletrônico. O problema, dizem, é que tal comunicação não é interpessoal, mas somente entre máquinas se faz. Balela! O problema não está nos meios de comunicação – embora muitas de suas empresas nos alimentem do desejo de jogar tal boliche solitário -, ou nos aparatos eletrônicos que des-facilitam a vida moderna. O problema, e a solução, somos nós! Nós é que escolhemos como agir; se nos deixamos levar o não. Nós é que decidimos se, por virtude ou ideologia, podemos ou não mudar nossos atos. Foi pensando nisso que comecei a escrever este blog, tentando alcançar um misto da expressão de minhas mais pessoais angústias com divagações sobre assuntos de interesse coletivo. E, para minha surpresa, eu não era um único ser que, perdido na rede, lançava sinais ao espaço em busca de vida. Neste fim de ano, quando o trabalho me esgotava, e as festas pouco me reconfortavam com a esperança de renovação, fui resgatado por mensagens de saudades, apoio e consideração enviadas por aqueles virtuosos amigos – alguns virtuais até – que criei e que mantive através desta página. Obrigado! E feliz ano novo...

PS: Este texto baixou em mim hoje e, mesmo que a isto não visasse, tem o sabor piegas das mensagens de fim de ano. Desculpem-me, mas foi inevitável...

quarta-feira, 11 de dezembro de 2002

Lista de AMIGO OCULTO


. Schroeder (Rodrigo MQ) - Cd Paratodos ou Quando o carnaval chegar, ou aquele que tem Pelas Tabelas, ou o Volume 4 do Chico.

. Roddsch - Palhetas do vidro dianteiro do Corsa 2000. Obs: se estiver dentro do preço estipulado.

. Ptk - CD-Pirata (Camelô do Centro) - FIFA 2000 (computador). Livro de bolso de poesias (M. Bandeira, Quintana, Drummond...) Livro de poesias do Arnaldo Antunes.

. Créia - Cd dos Tribalistas ou Arnaldo Antunes (mais antigo).

. Juh-Lai Lama - O que meu amigo oculto achar que eu vou gostar.

. René Boli - Sou a favor da lista; porque, com ela, podemos saber o que quer quem a gente pouco conhece. Pois bem. O problema é que a gente nunca sabe o que quer, ou melhor, o que pode colocar na lista. Eu, por exemplo, gostaria imensamente de ganhar uma viagem para a Espanha (acompanhado, é claro! - da Regina, diz a própria)... mas como não dá, fico mesmo com o catálogo da exposição de Eckhout (que só está à venda em Brasilia). Mas, algo factível, não sei... talvez o Chico, que é sempre bom. O problema é que tenho quase tudo. Só não tenho o Francisco (que tem Sambando no Toró), ou o Chico Buarque Volume I, ou ainda Quando o Carnaval Chegar - que a gente sempre encomenda, e nunca chega, nem no carnaval. Pode ser ainda os Saltimbancos (mesmo os trapalhões), ou a Arca de Noé (um ou doi, tanto faz). Um bom lugar para pesquisa é na Discomania, R. Paraiba 1378 ou R. Sergipe Tem também a Cecília, de Meireles, aquele livro de tradução de poemas chineses, que é lindo. No mais, não sei. Gosto de poetas. Drummond, Ana Cristina César, editado pela FUNARTE, que tá R$ 5,00 na Travessa, também vale. Bom, pra me dar presente basta ter bom senso e sensibilidade, um pouco de amizade também. Feliz Natal!

. Regina - Primeiramente, quero concordar com René pois considero fundamental o esclarecimento, por mais reduzido que seja - do tipo apenas uma dica - do que querem nossos amigos. Em segundo lugar, gostaria de sugerir a quem saiu comigo que gostaria de ganhar uma camiseta indiana de malha de algodão, que vende na Feira de Artesanato da Av. Afonso Pena. Meu tamanho é MÉDIO e o motivo que eu prefiro é o de estamparia miudinha.

. Marcie, vulgo Puliça - Livros e Cds sao sempre bons presentes, se for o Cd Tribalistas ou um livro da Fernanda Young são mais bons ainda!

. Carol - Calcinha M. Pra ficar mais folgadinha, que as minhas apertam. Tiara, arco, coisas de cabelo. Brinco dependurado. Literatura.
Juli, Lindus, Marcie, Mannu, e todos que reclamam por atualizações no meu blog, muito obrigado pelo incentivo! Apenas não tenho postado nada porque com o volume de trabalho que estou tendo não me sobra muito ânimo. Logo logo postarei. Beijos.