terça-feira, 28 de outubro de 2003

conheci um poeta, com versando com um poeta – e um figurinista acompanhando. fiquei ali, olhando como se ali não estivesse. quase não falando. não era minha vez – mas a felicidade, essa sim era minha. eu vi um poeta falando com um ator, outro poeta, e um figurinista. e me escondi na casa que o álcool fez pra mim. eu vi, fui visto - mas era dispensável. o que queria, mesmo, era não estar ali. mas ficar totalmente recolhido no invisível. e melhor me deleitar com a felicidade do poeta e do ator, que conversavam com o poeta e o figurinista.

indispensável era estar – ou ser – felicidade para alguém.
de repente, descobri que as pessoas se querem escritoras ou poetas. querem jorrar textos não por ofício, ou amor à forma, à letra, à arte, à vida, ou ao que seja. escrevem por amor a si mesmas. e por desejar, do mundo, que mais amor recaia sobre si. então, me deixem – que não sou nada disso não. não sou poeta, não sou escritor, não sou gente que quer o amor do mundo. não escrevo por amor – às palavras, às coisas, à vida. mesmo que escrever faça parte de meu ofício, não o faço por arte ou atenção, mas pela necessidade. necessidade de sobreviver. necessidade de ser alguém, que faz alguma coisa, qualquer. por isso, nem sequer escrevo. só faço o que me dá um pouco de prazer, o que me faz ser alguém. mesmo que sem certeza alguma.