segunda-feira, 25 de setembro de 2006

- Ratinho dentuço
Que cavuca a parede,
que barra a brisa
que destrói a nuvem,
que cobre o luar
Declaro ser o seu mais lindo amante
Com você eu quero me casar
Fazer da natureza o nosso altar

- Rato meu querido rato
Eu que sou assim de fino trato
Pra selar este contrato
O meu faro é tão certeiro
Com você vou ser feliz
Mesmo não sendo perfeito
Eu sou o rei eleito
Fico aqui todo sem jeito
Esperando um grande queijo (ops!)
Esperando um grande beijo

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

sambando de cócoras, em terra de sapo

Fui fazer o teste para entrar no curso de flamengo, e me saí muito bem. U-huu, aêêê!!! Então, certo flamengo me disse que a "mãe flandres" ficará sempre grata pelos meus esforços em aprender "essa língua de sapos". Segue minha resposta, a este e outros assuntos.


"desde seu último e-mail, fiquei pensando pensando sobre sua "língua de sapos"... eu tenho que confessar que vejo no flamengo alguns encantos, embora não seja uma língua cantante, como as latinas. Seja como for, eu não poderia estudar flamengo, inglês e francês, tudo ao mesmo tempo, pois senão o doutorado que é bom, necas de pitibiriba. E, como diz o Chico Buarque, em terra de sapo, a gente samba de cócoras. Seguindo as leis da casa, vou de neerlandês.

E olha que nem ando "cantando e sambando na lama, de sapato branco", quanto menos "cambaleando, sapateando no toró", porque a chuva há muito nos abandonou. Os dias seguem cada vez mais quentes, e animados. O trabalho vai bem, e estou confiante que no fim dará certo; por enquanto, "a voz é rouca, mas o mote é bom".

Só espero que o frio ainda tarde; e que quando ele chegar eu não me valha do legado (e das desculpas esfarrapadas) do François Villon, para fugir à labuta:

Depois que o senso foi reposto
E o juízo recuperado,
Eu cuidei de findar o proposto;
E achei o tinteiro gelado
E tambémo círio apagado;
Fogo? Não tinha onde encontrar.
Assim, dormi, todo embrulhado,
E não houve como findar.

Findando o assunto, não fui à festa do sédisetembro, na Embaixada, pois fiquei "vexado" de não ir "bem apessoado" (como diria Noel, "não custa nada preencher formalidade, tamborim pra batucada, soirée pra sociedade"). Quando fui comprar um "um pano legal", me dei conta que o dinheiro já estava no fim. Peço desculpas à sua Senhora, pelo esforço em vão.

Aproveite bem, e continue a mandar notícias. Quero saber se aí na terra tão jogando futebol, se tem muito samba, muito choro e rock 'n roll; se uns dias chove, outros dias bate... antes que eu tenha que lhe dizer, que coisa aqui tá preta...

Mando um abraço para os seus
Um beijo na família, na esposa e nas crianças,
A todo pessoal,

Adeus!

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

FEIJOADA

Onde está o broca??


terça-feira, 5 de setembro de 2006

Afro-american broca,

assim você me mata. Já morro, naturalmente, de saudades da península, da ibérica e de outras tantas; perdido que estou nessa terra de bárbaros. A saudade é tanta que corro o risco de provar as ostras nativas...

Aqui, é época de moules, ou mousselen, se você preferir o flamengo ao francês. Mexilhão, no bom português. Já comi moules da França, e da Zelândia. As da zelândia, dizem, estão a cada estação piores e menores (tem umas que você precisa de lupa pra achar), e os produtores colocam a culpa no tempo, no governo, em qualquer um que estiver passando pela frente. Depois de anos desaparecidas, as moules belgas voltarão ao mercado, em breve. Vamos experimentar. Mas, não espero grande coisa, pois, como é sabido, fora as ameixas, fritas e o chocolate, nada da bel-zica é bom. A carne não tem gosto. Os tomates são pura àgua. As maçãs... bem, para as maçãs inventaram uma moda, a da maçã crocante: crocante e saborosa como uma prancha de isopor.

As cerejas estiveram ótimas. Mas, já passou a época.

O bom daqui é que é fácil encontrar comida de qualquer lugar. Então, no supermercadinho, ou no supermercadão, podemos encontrar desde carnes ruins, como a belga e a australiana, até excelentes, como a brasileira e a argentina. Tem mandioca da África, pequi brasileiro, café do sul da Bahia ou de Lambari, chá chinês e vizinhas de Taiwan, que são umas gracinhas.

O povo, em geral, não come muito, e bebe demais. Eles tomam café da manhã, comem um sanduiche meio-dia, e jantam - bife com fritas, moules com fritas, croquete com fritas, qualquer coisa com fritas, ou macarrão. Sempre macarrão. Comida em restaurante não é lá grandes coisas. E, um croque-monsieur (um misto quente bem normalzinho), custa uns 4 euros. E nem chega aos pés dos nossos iche iches.

Os queijos são ótimos, mas esqueça que existe boa mussarela no mundo. A melhor daqui é pura borracha. Por isso, ainda não me atrevi a experimentar uma pizza. Para essas coisas, em geral se usa um ementhal jovem.O melhor queijo que comi, foi um de cabra, jovem e espanhol - humm, delícia. E um pyrenée de leite de vaca. Bom também.

Tenho bebido vinho espanhol, francês e muito, mas muito, muito mesmo vinho argentino. Alguns excelentes, por sinal.

Já as ameixas, existe quase que uma variedade para cada cidade. Imagino que quase todas inventadas artificialmente. Pois, as coisas aqui são tão artificiais que surgiu a moda da comida "biológica", ou seja, comida de verdade. Tem um tipo de vaca belga, por exemplo, que tem uma bunda tão grande, que quase nunca a levam ao pasto. Toda vez que minha recém-amiga carioca diz que, aqui, sempre aparece uma vaca no nosso caminho, lembro dessas vacas; embora ela se refira a "essaish vacaish; sempre mulhereish e flamengaish"...

Outro dia, fui num aniversário. Muita feijoada, das boas, farofa, vinagrete e COUVEEEE!!! Ataquei a couve com toda a minha vontade. Que decepção. Nem pra de Bruxelas aquela couve servia... Parecia chicória (chicon, não sei se em flamengo essa chicon do café é a witloof que usamos na salada) torrada, que os velhos colocam no café ralo, para parecer forte. Era algo aguado, e meio azedo.

O difícil também é viver sozinho. Pois comprar enormes quantidades sai muito mais barato que comprar minúsculas quantidades de qualquer coisa. Hoje, por exemplo, tenho um quilo de witloof na geladeira, e meio quilo de ameixas roxas. Isso depois de ter comido duas caixas de champignons e um monte de mexerica (ou mexirica ou mixirica, dependendo do seu corpo-lheis) africanas.

E, por fim, qualquer coisa aquí, é diferente daí, ou d'acolá. O shoyu escuro é doce e com pouco sal. Nem imagino o light...

Por falar em light, nada aqui é light, fora refrigerante (aproveitando, aquí tem coca baunilha, será bom?). Dificilmente se acha um adoçante como os daí. E é sempre caro. Por isso, adotei os torrões de açúcar. Depois de quase dois meses usando o de beterraba, comprei os de cana, e achei muito doce. Digo, o açúcar "como" o nosso, pois també comprei o candi, "como" o oriental.

Adorei o candi belga - são pedrinhas de açúcar de tamanho e forma irregulares, que existem nas cores branco (translúcido), ambar e preto. O âmbar fica lindo dentro do chá... e ele não adoça tanto.

No mais, vou levando. Saudades dos meus, beijos nos seus.

René

sexta-feira, 1 de setembro de 2006


O nome da ameixa verde é Reine Claude. La Reina Clódia.
Ela é boa de comer.

domingo, 20 de agosto de 2006

karen zegt: recebeu a carta?
René zegt: chegou onti
René zegt: ainda nao li
René zegt: pq fomos a ghent
René zegt: onde descobri que gantois é quem é de ghent
karen zegt: hein?
René zegt: e tinha um escravista fulano de gantois
René zegt: por isso mãe menininha do gantois
karen zegt: ah
karen zegt: o que isso tem a ver
René zegt: aaaaaaaaaaaaaaah minha maaeeeee
René zegt: minha maaeee minininhaaaaaaaaaahhhhhhhhh
karen zegt: com a carta?

É favor navegar:

sexta-feira, 18 de agosto de 2006

Caríssimo sempre bem criado amigo,

estive e estou muito bem, nesse fim de primeiro mundo. Houve feriado prolongado, em louvor à Santa Virgem, à cerveja, e ao festival de rock local! Para completar, estropiou-se o sistema operacional de meu computador. Foi essa a causa de meu desaparecimento.

É curiosa a vida por aqui. Por mais que queiram me convencer do contrário, acredito que a razão flamenga seja prima-irmã da portuguesa, mas com largos traços germânicos. Explico-me: quando se trata de se levar a vida com praticidade, impera a lógica lusitana; quando o que está em jogo é o ego, vêem-lhes os ares da superioridade da raça. Venho agora mesmo da agência dos correios, onde pude comprovar a primeira afirmação desta tese minha. Conto-lhe.

Na entrada de meu edifício, não há as corriqueiras campainhas, marcadas com os nomes de cada morador. Pelo contrário, há uma apenas, onde se pode ler uma advertência dizendo que, após esta porta, há outra, com as campainhas. Pois bem, assim sendo, há que se abrir esta porta, que nunca se encontra fechada à chave, e tocar as campainhas no corredor, logo antes de uma segunda porta, que permanece, essa sim, trancada. Operação bastante complicada, o sei. Mas, seja como for, o carteiro nunca acerta, e se a remessa for volumosa, tenho que buscá-la na agência central. E lá fui.

Lá chegando, entrei na fila do serviço expresso. Para minha sorte, havia somente duas pessoas à minha frente, a esperar o atendimento. Esperei cerca de 20 minutos, e logo percebi que o senhor que nos atendia não conseguiu resolver o problema de nenhum dos meus companheiros de espera. Chegou minha vez, solicitei a remessa. Esse senhor pegou o papel com as informações sobre meu pacote, andou para um lado, andou para outro. Ao cabo de 10 minutos me diz: Scrijnmakersstraat, 15? Olho para o papel em suas mãos e aponto: 16!!! Ohhhhh!! Aqui está!

Dessa, "Até o criado-mudo reclamou..."

O mesmo se passou durante o tal festival de rock. Durante este festival, diversos palcos são montados pelas praças e esquinas do centro histó(é)rico da cidade, as ruas no entorno são fechadas, e o acesso a elas, e aos shows, se dá perante o pagamento de suntuosos montantes. O acesso à minha residência, que se situa entre dois dos palcos principais, foi, obviamente, fechado. Não apenas por um lado da rua, que dá direto nos palcos, mas pelos dois. Assim sendo, para sair de casa, ou regressar, fui obrigado a exlicar, e re-explicar, que eu morava naquela rua, e queria ter acesso à minha vivenda.

Afff...

Isso explica algo...

Mesmo que isso me obrigue a assumir minha própria intolerância e preconceito, posso dar um exemplo que comprovaria a segunda parte da hipótese. Acaba de estourar uma grande controvérsia nacional. Um dos maiores representantes políticos dos flamengos atacou os francófonos do país, dando a entender que eles não eram capazes de aprender o flamengo, quando viviam nas regiões onde ele predomina. Um quiprocó, um bafafá que está dando o que falar... O representantes dos francófonos (que mais lembra o Daniel Azulai) retrucou, e assim vai.

O que posso dizer é que os próprios flamengos, alguns e não todos, ou falam muito mal o francês, ou se recusam a usá-lo, mesmo perante os estrangeiros. E nessa briga de diz que me diz, ou que nada se diz, o país vai se separando.

Bom, fico de expectador. E, enquanto isso, aproveito minha estadia. Para evitar os contratempos do sobredito festival, fui-me à França. Chovia em Paris, mas tudo estava lindo, como haveria de ser. Comemos muito bem num chinês de preço razoável, e visitamos o novo museu, dedicado à arte de nós, povos primitivos. Uma beleza. Estéticamente perfeito. Uma modernidade só. Dou parabéns sobretudo aos designers do museu, que conseguiram um meio fantástico dos textos de referência museográfica e legendas das obras não interferirem em nossa degustação da arte desses primitivos: as letras dos letreiros foram feitas, em branco, sobre acrílico preto, iluminado por trás. Uma belezura, de um tipo tão pequeno que não atrapalha o visu geral, e nem permite saber se aquele colar de pedrinhas era da América, África ou Oceania.

Com algum esforço descobri que boa parte desses primitivos nasceu e viveu no já há muito passado século XX... vou abrir uma loja de cocar ali perto - índio quer apito, mas também sabe lucrar!

Depois, fui ao norte da civilização francesa, no dia de Maria. Em Cambrai, fomos ver a procissão com os bonecos gigantes do casal de "mouros", Martin e Martine. A estória dos dois é complexa, por isso a conto como bem quero: ouvi dizer que este negro pertencia a um exército europeu, e da negra se apaixonou. Mas, ambos eram proibidos de se unirem, carnal ou não carnalmente, talvez por não serem católicos de batismo e ancestrais. Mas, Martin, que de ferro ainda não era, deve ter com Gregório cantado, que

O querer não tem razão,
que a vontade é mui sutil,
e assim por onde quer entra,
e talvez não quer sair.

Deram bananas à branquelada e fizeram seu carnaval.

Descobertos, foram condenados a tocar os sinos da cidade, marcando as horas. Apiedando-se deles, um padre local, que haveria de ser bem amigo de picardias e fornicações (como haveria de ser), mandou que se contruissem dois "automátos", que marcassem as horas por eles. Assim, foram-se os dois viver felizes para sempre, enquanto os pobres bonequinhos negrinhos lá estão, até hoje, a badalar a cidade.

Deles fiz algo como umas 70 fotos. Espero ter acesso à máquina, que me foi emprestada, para copiar algumas...

Depois, fui passear nos subterrâneos de Arras... muito bem, muito bom. E, assim vai a vida...

Voltando pra casa, pensei em reformular as propostas para o milênio. A primeira haveria de ser que: A cada mês, ficam obrigados os carrilhões a marcarem as horas, e quartos de horas, com uma nova seqüência musical, que não há de se repetir, no espaço de um ano.

Quero ver Martine se acabando num Lundu.

Um abraço nos seus,

René

PS: hoje, na rua, o ceguinho, em seu alaúde tocava, o Tico-tico no fubá. Pena que sem trocados eu estava!

Ainda há que se dizer, que triunfante passei pelo arco de Paris, ao som Cotidiano de Chico Duarte, que a rádio veiculava.

Paris, todo dia faz tudo sempre igual...

no jantar, teremos feijoada,
assim me calo com a boca de feijão, ão, ão!

segunda-feira, 31 de julho de 2006

já que a regina perguntou...

dispois, se uma broca sobrevive aqui? depende... uma broca pluriétnica certamente vai morrer pela boca. todo domingo vamos a uma feira étnica em bruxelas. primeiro, passamos pela grande tv de cachorro: enormes caminhões que as laterais se abrem, revelando forninhos com uma centena de frangos rodando e tomando um bronze, ao ar livre... frangos dos mais variados sabores, que ainda não tive coragem de provar, pois não sei bem das condições de preparo e armazenamento...

depois, chegamos às barracas de frutas dos marroquinos. tenho comido muita cereja (da doce e da azeda), pêssegos de diversas e dulcíssimas espécies, e um tipo de ameixa daqui, que é verde, mas de.li.ci.o.sa!!

depois, passamos no italiano, para comprar verduras. tem umas verduras daqui que são gostosas, mas com nomes que ainda não consigo guardar. tem outras que parece que você está comendo dente de leão com capim manteiga.

beringelas e tomates, pelo menos 3 variedades de cada, que se preparam de inúmeras formas diferentes. a esposa do meu orientador é apaixonada por beringela, e quando descobriu que também sou, usou isso de desculpa para fazer todo dia. é beringela grelhada, salada de beringela, dá-lhe beringela. outro dia fomos a um supermercadinho dos turcos (que, aliás, têm os açougues mais limpos que vi), para comprar tahine para fazer o quê? BERINGELA!

a única coisa que ela lamenta é não ter aqui um tipo de beringela que ela pode preparar como a avó dela fazia, aí em Marília. é uma receita japonesa (a avó nasceu lá), de beringela crua, "cozida" apenas com sal. parece bom.

bom, voltando ao mercado, lá tem também barraquinhas de azeitonas e frutos secos dos árabes. ai ai.

e inúmeras outras coisas, como queijos, carnes e peixes. essas últimas coisas a gente não compra, por conta da higiene. o peixe invariavelmente tem moscas (mesmo na feira aqui de leuven) e cheira mal.

mas, mesmo que você não goste, tenho que dizer que estamos na temporada de mexilhões. hummm. delicia. a esposa do professor fez pra gente mexilhões cozidos no salsão. meus deus do céu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

aliás, se ela não me matar de tanto comer, o marido dela me matará de tanto beber. até agora foram (além de diversos aperitivos) vinhos argentinos, franceses, espanhóis, chilenos, etc.,etc.,etc.

no mais, eles trouxeram do japão uns salgadinhos de soja, cobertos de gengibre, e azeitonas de valência, que me matam.

queijos: comprei gouda, ementhal e camembert. e ganhei um pedaço de queijo minas.

o jantar de ontem foi coelho assado com limão cozido no açúcar (coisa da barraquinha dos árabes), com mandioquinha africana frita. e, de sobremesa, biscoitos amanteigados belgas. hummmm!!

aliás, os sorvetes são bons, mas nada que se compare com os nossos.

no mais, tenho emagracido um pouco, pois faço tudo a pé, e tenho feito somente duas refeições leves por dia (quando não vou jantar com eles), por conta do calor.

os doces e chocolates que vejo pela rua são lindos. só provei, até agora, a torta das ameixas verdes, que meu orientador comprou para que eu experimentasse. no mais, estou esperando o daniel chegar. pois sei que ele vai me fazer comer tudo. então, que eu emagreça de antemão...

no mais, beijos e sodades

René

quarta-feira, 26 de julho de 2006

para imprimir e colar na porta de casa


uma promoção Ajax Festa das Flores

responder é preciso

Creio que o comentário do meu irmão, categoria anta jùnior, merece uma resposta. Não pelo tom provocativo, mas por suscitar histórias. Histórias, pois bem, histórias. Estou aqui para completar as pesquisas para meu doutoramento em História, mas vou acaber é mestre em narrar histórias e estórias de vida. Pois, a maior parte do tempo em que estou em frente ao computador são dedicadas à saciar os anseios tupininquins, que em coro cantam:
Mande notícias do mundo de lá!
Diz quem fica...
E tem horas que só posso dizer:
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Então, nada de novo no front. Só a repetição desse nosso velho tema tão banal: calor e higiene.
Pois bem, admito que gosto de banho mais do que índio. Mas, devo dizer, como não sou bobo, aqui não ponho minhas barbas de molho. Tenho medo do preço da àgua, por isso me tornei o viciado em economia desse bem não tão natural e nem tão renovável aqui nesse mundo de Oh, meu Deus!
Nos primeiros dias, nada de traumatizar a população local. Foi um banho por dia, olhe lá. Naquele estilo: abre torneira, se molha; fecha torneira, se ensaboa; abre torneira, enxágüa.
Depois que me mudei, também mudei de hábitos. Dois banhos por dia, no mesmo esquema. Esse luxo não é produto do puro desvairio higienizante brasileiro, nem mesmo por alguma obsessão por água. Mas, puro reflexo do aumento da temperatura local dos 28 para os 34 graus.
O que não consegui conter, foi o impulso de limpar meu pequeno estúdio, logo que nele entrei. Quando me entregou as chaves, a proprietária (que é sempre muito solícita e de quem nada devo reclamar), me disse sorrindo: passei ontem o dia inteiro limpando o estùdio. Que bom, pensei.
Mas, por precaução, fui passar um paninho dentro do armário, antes de colocar minhas coisas - o paninho, de amarelinho, tornou-se cinzinha, quase pretinho. Não deu outra: passei a mão no meu vidro de dois litros de Ajax Festa das Flores (cuidadosamente escolhido no supermercado para que seu perfume não me causasse alergia - quanta frescura), e virei um tanto num balde. Acrescentei ÁGUA (olha a conta, seu herege!). Peguei uma bucha, e esfreguei. Esfreguei o armário, esfreguei o armário da cozinha, esfreguei as portas, esfreguei os acendedores de luz, esfreguei os lustres. De tudo escorria um caldo preto, que eu guardaria como nanquim, se uma caneta tinteiro tivesse. O lustre da cozinha, então, me tomou uma hora. Era um tal de dez anos de poeira misturado com óleo de fritura... no fim, parecia novinho, branquinho, branquinho.
Depois, foi a vez do chuveiro. Ou melhor, a ducha. Minha ducha é uma espécie de grande lata de sardinha branca que fica de pé dentro de um quartinho. A gente entra nela, abre a torneirinha de ÁGUA quente, depois e de ÁGUA fria, e pá pá pá pá pá toma banho, com aquele barulhão de ÁGUA caindo em lata (hoje esse barulho diminuiu um pouco, pois a senhoria me deu um tapete de plástico pra pôr lá dentro, que amortece o bombardeio de ÁGUA). Explicada a ducha, passo para a narrativa de sua limpeza.

Quando fui ao supermercado, comprei um produto fortíssimo, com desinfetante e o filho mais moço do diabo à quatro, para limpar minha lata de sardinha. Esse é um produto muito comum aqui, que serve para tirar o que eles chamam de calcário, dos metais da casa, como torneiras. Ou seja, pra tirar aquelas coisas brancas que se acumulam nos metais que ninguém limpa. Minha latinha tinha muito calcário. Calcário branco, calcário preto, calcário marrom. Muito calcário, muita craca mesmo.

Previnido, mas sem as tais barbas de molho, aproveitei minha ida às lojas Bloker (a versão local das Lojas Americanas), para comprar, na promoção, uma escovinha de limpeza. Escovinha na mão, produto contra cracária, e ÁGUA, parciomosiosamente gasta. Esfrega, esfrega, esfrega, e sai aquele caldo preto, agora com partículas sólidas de craca. Por fim, tirei tudo das partes da ducha em: que encosto. Ficou um restinho para a próxima tentativa. Meu espírito indígena vencido pelo cracário.
Ni qui acabei, tava exausto. Achei melhor ir dormir, e continuar minha saga na manhã seguinte. Dia seguinte, foi a vez do chão. Comecei com um paninho úmido, a Ajax Festa das Flores. Termeinei lavando duas vezes o chão, com um balde de ÁGUA, e Ajax. As flores fazim uma "reivi" lá dentro...

Foi quando comecei a reparar meis no prédio onde moro. Ao se entrar nele, sentimos o cheiro da cozinha comunitária (que é das mais limpas que vi aqui). É um misto de lixo acumulado com bafo de comida feita com as janelas fechadas. Assim, logo alcança-se a escada, que felizmente não tenho que usar, pois moro no térreo. A dita escada tem um carpete bi-color: vinho onde se pisa, cinza com floquinhos de poeira, onde ninguém toca.

Passando por isso, sentia-se o odor do banheiro comunitário (atualmente já visitado pela Festa das Flores). Depois, você ouve uma música eletrónica vindo de uma porta, luzes coloridas saindo pelas frestas da mesma. Ao entrar: A FESTA DAS FLORES.

Um tupiniquim em seu paraíso artificial.

Hoje, o que mais medo me dá não é a Nazareth, mas sua escada...

Pararauê-re-re-re-re-re-re-re-re……………………………….

terça-feira, 25 de julho de 2006

o scrap do dia - versão completa

Mi,
tô aqui com uma bolsa sanduíche, vivendo de comer sandubão!
Francês? Hahaha!
Aqui se fala flamengo!
Ao menos em teoria, pois tem lugar que arrisco um flamenguinho básico, noutros um francês pedestre. Mas, no geral, estou me comunicando bem com meu inglês de pedreiro checheno, trabalhando em Bariloche!
No banco, e com um dos meus orientadores, converso em espanhol.
Mas, o que estou praticando mesmo é o português. Vou sair daqui falando português fluentemente. A família do meu outro orientador fala português, a mulher dele é de Marília. E tenho frenqüentado muito a casa deles. A secretária do departamento tb fala português, isso sem contar com uma verdadeira comunidade brasileira que há aqui...
Eu estava pensando em conhecer a Austrália, mas ouvi dizer que o número de sinistros no trânsito aumentou enormemente. Melhor ficar por aqui!
Beijos

segunda-feira, 24 de julho de 2006

fragmento aberto, de carta pessoal

...e eu aqui... nesse fim de primeiro mundo. super cafoninha, pois me recuso a usar as meias pretas com o tenis branco. na verdade, estou "super out, meu bem", pq diz um dermatologista daqui que tomar muito banho faz mal... no super, eu passo super longe das pessoas, pois meu cheiro de sabonete pode ferir o olfato alheio.

istro dia, eu tava chegando na faculdade, e passei em frente à praça, quando uma moça parou no meio do caminho, procurando uma coisa na bolsa. como era cedo, ela, como muita gente, levava seu pão, sem embalagem, dentro da bolsa. sem cerimônias ela se abaixou, tirou o pão da bolsa, pôs no meio fio. pegou o que queria, guardou o pão novamente. e foi-se. pois bem, a estória do pão no chão não é lenda urbana.

e é por isso que meu orientador choca os alunos dele, dizendo q o Brasil precisa dar aulas de civilidade pra Bélgica...

e o calor continua saárico. outro dia, ouvi um senhor dizer ao seu namoradinho que um africano estava reclamando do calor. e ponderou, preconceituosamente: essa gente mora perto do deserto, e vem reclamar do calor aqui?

pois, eu me sinto em Salvador eô-eô...

um brasileiro ligou de Paris e disse que a cidade estava insuportável. tudo cheira a xixi e c.c.! C'est Paris: trashchicm, mon fils...

vi na tv uma reportagem sobre o 0800 de informações sobre o calor. Uma velhota, à qual não beijarei, perguntava ao atendente o que ela deveria fazer para manter a saúde (quiçá a sanidade). O moço respondeu em bom francês: você terá que estar tomando ao menas um litro de água por dia.

- isso tudo, meu filho? eu não consigo...
- mas, vai estar sendo preciso...
- tu tu tu tu...

Depois o povo fica com dó das velhotas desidratadas, em pó ou defumadas que são encontradas, dias depois, mortas em casa...

no mais, beijos nas crianças

René

terça-feira, 23 de maio de 2006

Mas se eu esperar compreender para aceitar as coisas - nunca o ato de entrega se fará. Tenho que dar o mergulho de uma só vez, mergulho que abrange a compreensão e sobretudo a incompreensão. E quem sou eu para ousar pensar? Devo é entregar-me. Como se faz? Sei porém que só andando é que se sabe andar e - milagre - se anda.

(Clarice Lispector - Água Viva)

segunda-feira, 17 de abril de 2006

oito horas da manhã. as conservadoras de edifícios tomam minha rua. seus uniformes são das cores azul papel-da-maçã e um bege estranho, beirando o cinza. cigarro e conversas em tom alto, ligando os dois lados da rua, acompanham o serviço.

hoje será mais difícil varrer o lixo: acabou de chover.

domingo, 16 de abril de 2006

passar tantos dias na frente do computador, só vendo pessoas virtuais, ou dialogando com os mortos, é caminhar em direção à insanidade. faz-me falta uma voz humana, que não saia da tv, e nem cante. minha janela parece um quadro, mesmo que nada estático. e só a mudança da luminosidade, lá fora, me garante que ainda vivo. queria que hoje o sol não se pusesse.

sexta-feira, 7 de abril de 2006

XXXIX


Depois que o senso foi reposto
E o juízo recuperado,
Eu cuidei de findar o proposto;
E achei o tinteiro gelado
E tambémo círio apagado;
Fogo? Não tinha onde encontrar.
Assim, dormi, todo embrulhado,
E não houve como findar.

(François Villon - O Legado)

Um dia com Aretha



What you want
Baby I got it, mm
...
Noo, a little respect
Noo, a little respect
I’mma say it one more time
R-e-s-p-e-c-t

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

que cuidar de uma criança era difícil, isso eu já sabia. mas, dois, de uma só vez? isso é trabalho ao quadrado!! e satisfação também...

no quesito trabalho, otto, o estrupício, é muito pior que a ana. enquanto ana é uma pessoa higiênica e controlada, cadidata a miss lilica bicalho, o otto, ai... limpar cocô dele o dia inteiro é uma experiência realmente engrandecedora; a cada vez, queimam-se dez karmas de sua cota, com direito a concorrer um bônus extra, no final de cada mês!

ainda acho que a licença paternidade deveria ser concedida após o quarto mês do nascimento...

fumm... de novo...

com licença eu vou à luta
Comendo os convidados,

A hora do almoço pode ser menos estressante se você tiver um pouco de imaginação. Há alguns anos criei um evento que pode acontecer sempre que a negociação da hora de comer ficar complicada: a Festa da Barriga. É muito simples: a barriga do seu filho é um salão de festas e todos os alimentos são convidados.

É interessante que a criança escolha o anfitrião e o motivo da comemoração. Por exemplo: oaniversário da Beterraba, a despedida do Brócolis, o casamento do Arroz com o Feijão. Mas mãe, O Feijão e O Arroz não são homens? Aproveite a oportunidade para explicar à novíssima geração que homens podem se casar com homens, sim. Você pode notar também que o fato do arroz ser branco e o feijão ser preto não impede que eles se amem. Mas aí o negócio já descamba para aula de politicamente correto e no final das contas você quer mesmo é que seu filho coma toda a comida. Uma coisa de cada vez.

Geralmente o alimento escolhido é o mais diferente no dia, por exemplo, a Abóbora. Nesse caso, ela deve ser a primeira a chegar, ou melhor, a ser comida. Os convidados se preparam na boca, quando são mastigados. Portanto, se sua filha estiver comendo muito depressa, explique que assim aqueles legumes estarão chegando à festa sem a menor produção. Quando ela engolir, você faz as vozes: _Brócolis querido, que bom que você veio! _Parabéns, Abóbora, como você está bonita! Os convidados vão chegando e a festa vai ficando cada vez mais animada: _Oi, Carninha, olá, Batata, como vai, seu Espinafre?

Se houver algum legume que sua filha não quer comer, faça uma vozinha triste: _Poxa, eu queria tanto ir à Festa da Barriga... Chantagem emocional e lá vai o penetra que em outra situação não entraria naqueles salões.

Mas cuidado: não acostume sua criança a promover sempre a Festa da Barriga. Você pode ser eleita a dubladora oficial das verduras e legumes baladeiros.

: : Laura : :


pilhado de mothern


gunff!! nunca foi preciso que eu promovesse festinhas, baladinhas e afins, para verduras e legumes (vida dura a deles, e curta... muito curta). melhor assim. não tive que me preocupar, desde cedo, com a preparação do evento. a roupa, o salão, o dj. coisas que nunca fizeram muito parte das minhas preocupações festo-comemorativas. os divertimentos (teatro de fantoche, oba!), os comes e os bebes, isso sim!

o que será que D. Beterraba quer pro jantar?
(Fra Angelico - Predella da Anunciação)

"O azul ultramarino era fabricado a partir do pó do lápis-lazúli, importado a altos custos do Oriente; o pó era diluído em líquido várias vezes para se extrair a cor, sendo que o primeiro extrato obtido - um azul violeta intenso - era o melhor e o mais caro. O azul alemão nada mais era que o carbonato de cobre; sua cor era menos brilhante e, o mais grave, seu uso se revelava instável, particularmente em afrescos... Os pintores e seu público estavam atentos a tudo isso, e as conotações de exotismo e perigo que se associavam ao azul ultramarino tinham uma importância no quadro que, hoje, possivelmente nos escape..."

(Michael Baxandall - O Olhar Renascente)

sábado, 4 de fevereiro de 2006

esquentando os tamborins
sou, ou não sou, piada de salão?

(São Jorge e o Dragão - Rogier van der Weyden)

Ao escrever não posso fabricar como na pintura, quando fabrico artesanalmente uma cor. Mas estou tentando escrever-te com o corpo todo, enviando uma seta que finca no ponto tenro e nevrálgico da palavra... Antes de mais nada, pinto pinturas. E antes de mais nada te escrevo dura escritura. Quero como poder pegar com a mão a palavra. A palavra é objeto? E aos instantes eu lhes tiro o sumo de fruta. Tenho que me destruir para alcançar cerne e semente de vida. O instante é semente viva. (Água Viva - Clarisse Lispector)
Hoje, travo mais uma batalha. A batalha que é batalha-de-cada-dia. Hoje, me bato pela palavra. Como domar a palavra? É possível fazer dela pintura? Ou é melhor deixá-la palavra. Pura e simples? Nessa dúvida, estanco. O fluxo pára. E as palavras fazem bola no meu peito. Uma bola de pêlo. Se, ao menos, elas saíssem pela boca, escorressem pelos dedos. Haveria alívio.