sexta-feira, 28 de junho de 2002



O Novo Baiano
criação coletiva, dos seus irmãos.
O meu irmão, distante e retardatário, descobriu HOJE que a Marcie virou pulissa. Doido...
Mas, tenho que concordar com o Gô: ela bem que poderia fazer um blog para contar suas aventuras de tira. Pois se dependesse de mim e do Gô...

Imaginem



... seria ridículo.
Como sempre, Lady Bug tira as músicas de minha boca! These Foolish Things - por Ella Fitzgerald.

terça-feira, 25 de junho de 2002

cem beijos, cem abraços, cem horas juntos, sem discussões, sem desencontros, sem angústia, sem medo, alguma solidão, algum sossego, alguma palavra, algum silêncio, você... me amando como te amo, entre o desejo de sermos, e a possibilidade de estarmos - um e juntos.

Te amo, meu Lindus, mais que sempre!
A G.H. mudou a cara do blog dela: está mais lindo que nunca. Quanta classe, quanto estilo - quem dera eu! E, ainda por cima, colocou uma imagem bonitinha de uma janela no link do meu blog. Eh, portento!

segunda-feira, 24 de junho de 2002

E esses dois, alguém reconhece?

A pedidos, mais alguns exemplares da turma:



Créia



Juh Lai Lama



E eu!!!

Bom, amanhã tem mais!

sábado, 22 de junho de 2002

Contemplação Distraída à Janela


Que podemos fazer nestes dias de primavera, que já se aproximam rapidamente? Esta manha cedo, o céu estava cinzento, mas se agora a gente se chega à janela, surpreende-se e apóia a face contra o batente.
Embaixo, vê-se a luz do sol que se despede sobre o rosto da jovenzinha que passa olhando em volta; ao mesmo tempo vê-se nele a sombra de um homem que se aproxima rapidamente.
E depois o homem passa, e o rosto da menina está inteiramente iluminado.

(Franz Kafka – Contemplação)
E agora, apresento para vocês:



o Rodsch
Olhem só: o Gô, que estreou seu nariz italiano na teledramaturgia brasileira, teve um tempinho de passar por aqui! Para você, Gô, coloco aqui uma foto da malévola Drª Selma. Cuidado!

quinta-feira, 20 de junho de 2002

Menina,

eu já havia passado por seu espelho, e confesso que gostei. Mas, de seus textos, o que eu poderia dizer? Hiperbreves?, sim. Alguns são densos, e condensam algo em quem os lê: um sentimento, um sentido, uma intenção, uma idéia. Outros, menos: brincam com nossos sentidos, giram pelo corpo e se vão, na brevidade de uma piscadela. Mas, como estou atrevido e muito crente em mim, me permito a duas ousadias.

A primeira: feliz com seus elogios, comento seu Amor de Raposas com um textinho que fiz, de impulso, para quem amo.


Ensine-me coisas.
Não em tom de ensinamento.
Mas soltando os nós que foram amarrando minha alma.



A segunda: tomar emprestado seus Olhos de brinquedo como meu espelho, e minha janela.

Olhos de brinquedo

A menina da janela observa tudo. Está no segundo andar. A rua é calma, margeada de árvores e coberta de folhas. A casa é rosa, tem um gramado ao redor, uma varanda na entrada e nada de portão trancando a menina. Ao alcance dos olhos dela está o sobrado lilás - bem em frente, a escola de inglês - do lado esquerdo do sobrado, e a praça com o gira-gira - do outro lado. Ela não liga pro gira-gira. Gosta mesmo é de ver as pessoas. Tem oito anos e uma população dentro de si. Sabe como a criada da frente varre a calçada, conhece o andar da diretora da escola e imita direitinho a garota manca que brinca na praça todas as tardes. Não erra o barulho do lixeiro, pergunta - e decora - nome e sobrenome de cada entregador que aparece. Já contou os cadernos que o menino do skate leva para a aula de música - três - e está quase certa de que o guarda da noite apita 44 vezes, da hora em que entra no turno até a hora em que ela dorme. A menina da janela tem cachinhos dourados, dentes de leite, e é cega.

(A Menina no Espelho)

terça-feira, 18 de junho de 2002

Através da fresta
no papel da janela,
a via láctea.



(Issa - Livro de Hai-Kais )
flor na lapela
noite de serenata
à janela


(Carlos Seabra)
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

(Fernando Pessoa – fragmento de Liberdade)

segunda-feira, 17 de junho de 2002

Recebi o protesto de Tantri quanto à sua foto que aqui divulguei. Fui obrigado a concordar: esta foto não é sua. Na verdade, a Tantri é a encarnação da Tomoe Hotaru, a versão pessoa-normal da Sailor Saturn.



Tomoe Hotaru


Mas, se a análise física demonstra serem Tantri e Tomoe a mesma pessoa, um estudo de suas personalidades comprova o fato. De início, temos a tendência de Tomoe à manutenção de inúmeras personalidades: além de ser, paralelamente, Tomoe e Sailor Saturn, quando pequena, a garota foi possuída, transformando-se no Mensageiro do Silêncio (e o Silêncio tem lá algo a dizer pela voz de um mensageiro? Pretexto mais cretino para justificar uma possessão...). O mesmo ocorre com Tantri, que muda de nome, e personalidade, ao sabor do vento: já foi Tantrielle, Tatyelly, Insacielly, Votvará, Peytte, e até Acadêmica Sandy (sua personalidade guerreira-samurai).
Além disto, cabe lembrar que Saturno é Chronos, mitológico titã que canibalizava seus rebentos assim que nasciam de sua esposa Cibele. É o rei da melancolia. Senhor do tempo que, a tudo cria, deteriora, destrói. Louco. Reconhecível pelo olhar: estático, robótico, frio. Tão psicopata quanto à legista Tantri. (É... vou reconsiderar minhas intenções reprodutivas.)



(Francisco Goya - Saturno devorando seus filhos)

domingo, 16 de junho de 2002

Poema para uma sacerdotiza celta.


FILÓ, A FADINHA LÉSBICA


- escarafunche a foto -

(Hilda Hilst- Bufólicas)


Frida Kahlo
A Janela para a Rua

Aquele que vive só, e que contudo deseja de vez em quando se vincular a algo; aquele que, considerando as mudanças do dia, do tempo, do estado de seus negócios e outras coisas, deseja de súbito ver um braço ao qual poderia aferrar-se, não está em condições de viver muito tempo sem uma janela que dê para a rua. E se lhe agrada não desejar nada, e apenas se aproxima da janela como um homem cansado cujo olhar oscila entre o público e o céu, e não quer olhar para fora, e deitou a cabeça um pouco para trás, contudo, apesar de tudo isso, os cavalos lá debaixo acabariam por arrastá-lo em sua caravana de carros e seu tumulto, e assim finalmente na harmonia humana.

(Franz Kafka – Contemplação)
Não dormi. Fiquei até as seis horas jogando mahjongg. Logo, não consegui assitir ao show do Antonio no museu. A Anta e a Mel me recriminaram.

Anta, oh, minha antinha – que promete me denunciar frente a meu amado -, digo-te: não o fará. Pois o farei. Não dormi, esqueci-me de dormir. Por que dormir, às vezes, parece sem sentido (há tanto o que fazer...), sobretudo quando não há quem me deite. Quando não há quem me cubra (não como às vacas, pois assim não se dorme) com seu cobertorzinho. Quente e macio.

sábado, 15 de junho de 2002





Estava procurando a imagem de uma garotinha oriental, e acabei encontrando um site de mangás whose works deal with the themes of
MALE/MALE ROMANTIC RELATIONSHIP & FRIENDSHIP


Com destaque especial para o volume Inchallah (que trash).

Hai Kai bobo para um amor


Noite na praça .
De estrelas e jasmim,
nasce um amor.




Hai Kai sério para meu amor


Noite no jasmineiro.
Sobre o muro,
estrelas perfumadas.



(Yeda Prates Bernis - Caixa de HAI KAI)
casa de anjos.
quem borboletas cospe,
hai kai recebe.


Procurando pouso
Na rua movimentada,
Borboleta aflita


(Edson Kenji Iura)
Essa é a Tantri, futura mãe de meus filhos.
No dia do namorados, ganhei uma orquídea. Ela se parece com o Manacá da Tarsila do Amaral. E, da minha sala, saúda a todos.
Mensagem do Scroeder:

Boli,

Eu sei porque você quis um link para Estampes.

E sei porque não conseguiu.

Elas não podiam ser virtuais, tinham que ser as verdadeiras, ao vivo e em timbres:

No domingo, 9/7 (ou 7/9 como dizem os blogs) foram as peças que eu toquei melhor nas margens plácidas do Rive Doux... (?)

Obrigado pela inspiração telepática!


E eu nem sabia que meu amigo estava tocando, naquele dia, em um concurso!! Continuamos paranormais.
Para a nada extinta mulher-vulcão :


Disfarça e chora.

Chora.
Disfarça e chora.
Aproveita a voz do lamento
que já vem a aurora.
A pessoa que tanto querias,
antes mesmo de raiar o dia,
deixou o ensaio por outra.
Oh, triste senhora.

Disfarça e chora.
Todo pranto tem hora.
E eu vejo seu pranto cair
no momento mais certo.
Olhar, gostar só de longe,
não faz ninguém chegar perto
e o seu pranto, oh, triste senhora,
vai molhar o deserto.

(Cartola – Dalmo Casteli)
Fomos a uma feira japonesa na Igrejinha. Entre makis, yakisobas, sushis e sanduiches árabes (com tabule, uma delícia!), vimos uma menininha de negras madeixas e quimono japonês. Linda! Então decidimos, Tantrielle e eu:

- Nossa filha vai usar quimono. Um coque de bolinha em cada lado da cabeça, amarrado com fitas coloridas. Chinelo de palhinha...
- ... e, quando chegarmos em casa, vamos dependurá-la na janela, com um sininho. Que é pra dar sorte.




Quão famosos meus amigos! Depois de Schroeder, Marcie: nem acabou de se formar, já foi condecorada. Haja medalha!

Já o Rodd, agora é, cariocamente, Rodsch. Parabéns!

quarta-feira, 12 de junho de 2002

Para encher os olhos, de perfumes.



Tarsila do Amaral - Manacá



Resumo do dia: Bleeeeeerghhh!!!
Amanhã ficarei melhor.
Eeeeeehhhhh!!!! Mais uma vez premiado, Schroeder?? Assim você acaba se acostumando.

domingo, 9 de junho de 2002

Tentando entender o que é a melancolia, procurei exemplos de compositores melancólicos na MPB. Lembrei-me de Cartola. Ninguém como ele, em suas músicas, conseguiu expressar tão bem este humor, nem triste/nem alegre, que permeia a vida daqueles que, conscientes de sua impotência frente à passagem do tempo, se acham sem lugar, poder ou função no mundo.



Que Sejam Bem-Vindos

Oh, Deus, não posso entender
porque vamos chorando,
se nossos cicerones são aves cantando.

Materialmente as flores,
deitam aroma sorrindo.
E ouço da natureza: 'Que sejam benvindos!'

O vento, de quando em quando,
num sussurro ameno,
obriga a toda floresta a nos fazer aceno.

É um festival de alegrias,
que me ponho a imaginar,
não sei se devemos rir ou chorar.








Autonomia

É impossível, nesta primavera, eu sei.
É impossível pois longe estarei,
mas pensando em nosso amor, amor sincero.

Ai, se eu tivesse autonomia.
Se eu pudesse gritaria:
‘Não vou, não quero.’

Escravizaram assim um pobre coração.
É necessária a nova abolição,
pra trazer de volta a minha liberdade.

Se eu pudesse brigaria, amor.
Se eu pudesse gritaria, amor:
‘Não vou não quero.’





Senhor!!!

Agora é para valer: minha amiga Marcie virou os homi (policial), e terá um bom motivo para responder SENHOR!! a todo instante. Parabéns, Senhora!
Quem quiser ouvir um bom intérprete de Debussy ao piano - e não tem o privilégio de ser amigo do Schroeder, que toca Jimbo's Lullaby como ninguém - pode experimentar ouvir as gravações do pianista Alexis Weissenberg, por exemplo.


Claude Debussy - Estou aqui, faz um bom tempo, tentando escrever uma pequena resenha impessoal sobre a obra de Debussy para este blog... inútil. Tudo o que escrevo me parece artificial, ou pequeno, pobre. Talvez porque sua obra me toque tão intimamente que desfaz o peso do meu corpo, e converte minha existência em som. Talvez porque sua música me soe tão fantástica... Fantástica; excelente palavra para descrever a obra de Debussy, e sua tentativa de ultrapassar o legado do romantismo na tradição musical francesa. Envolvido com as propostas estéticas de artistas como Mallarmé, Baudelaire, Verlaine, Camille Claudel, Poe, Debussy criou imagens sonoras de mundos exóticos e fantásticos, condensando sensações em sons. Afirmando-se veementemente como músico francês (opondo-se à onda wagneriana que inundava as salas de concerto), transformou sua obra numa das mais idílicas expressões do cosmopolitanismo parisiense. Incorporou à escrita musical ocidental sons orientais, como da música japonesa e das ilhas do pacífico. Buscou temas exóticos e sensoriais, como as estórias de ninfas, de faunos gregos e de casais da mitologia indiana. Buscando novas perspectivas musicais, e a criação de uma ambiência sonora encantada mas não sentimentalista ou caricata, Debussy absorveu com seu ouvido francês toda música, literatura, escultura, toda a arte que encontrou em seus colegas, e que viu nas exposições mundiais de Paris; mas não tentou reproduzir tais elementos estéticos, mas sim, utilizar seus recursos na criação de uma arte própria... tão fantástica quanto as viagens sensoriais e imaginárias que experimentamos ao descansar os olhos sobre estampas postais que representam lugares distantes e desconhecidos. Ignotos.

Na falta de um link para Estampes - minha preferida -, ouça o prelúdio A Catedral Submersa

sexta-feira, 7 de junho de 2002

INCRÍVEL




I am linus

Which Peanuts Character Are You Quiz


Anti-tabagista

Estava só. No apartamento do primeiro andar. Lia - sobre Kafka. A dada altura, quando seu pensamento já se descolava das páginas e, em pensamento, travava grandes diálogos teóricos, por hábito (pois tinha o hábito este de, quando pensava, andar pelo apartamento, sem rumo ), chegou-se à janela. Viu. Não pretendia. Mas viu. Apenas. O vizinho – que ele sempre recriminava por insistir em fumar na janela, na vã esperança de que os pais nada desconfiassem – comprava maconha. Sentou-se. Voltou a ler.

Mas, a cabeça ainda lhe doía. Já havia lhe doido o dia todo como prenúncio de uma nascente enxaqueca, ou como resultado de sua ansiedade – ele detestava essa ansiedade de causa desconhecida que lhe assaltara parte do humor. Ou por ambos.

Lembrou-se. No armário. Uma caixa de cigarrilhas. Sem maiores moralismos, acendeu uma. Fumou.

Pensava – agora já reclinado em sua cadeira, com o livro e seus assuntos já esquecidos. Como era possível alguém aliviar a tensão fumando? Coisa horrível aquela! Ardeu-lhe a boca. Fedeu-lhe o cabelo.

Com ares de autonomia, soltava baforadas pela boca – mesmo porque, havia engolido fumaça em suas tentativas de tragar.Desistiu. Apagou a cigarrilha. Jogou-a fora.

A casa toda já cheirava mal. Ele cheirava mal. Mas, pelo menos era cigarrilha, que não lhe dava alergia, e ainda tinha uma leve nota agradável no cheiro.

Seus irmãos estavam por chegar. A casa fedia. Acendeu um incenso – artifício inútil que criticava em todo maconheiro (com o perdão da palavra). Novamente andando pela casa, como se estivesse a filosofar, pensou justificativas para aquele fedor.

- Fumei mesmo, e o que tem isso? – assim teria que arcar com as repreensões.

- Esse cheiro? Foi a simpatia que fiz (simpatia de segurar namorado) – mas ali não havia sapos... e muito menos se usa costurar uma cigarrilha na boca de um sapo! Quanto mais numa casa de ecologistas e anti-tabagistas.

- Colocaram fogo no lote! – talvez a alternativa mais verossímil para seus irmãos.

Para o amargo da boca, tomou xarope de mel, guaco e própolis.Tomou de novo – esse xarope é gostoso mesmo, né? Tomou mais ainda. Não adiantou. A boca amargava. O cabelo fedia. Sua roupa cheirava mal. O estômago cheio de fumaça.

Sentou-se. Pôs-se a escrever. Pensou: como alguém pode relaxar fumando?

Misteriosamente, sua cabeça parou de doer.


E nem é preciso dizer que esse escrito idiota – sem estilo, sem porquê e sem noção – foi nascido da incapacidade da confissão direta e objetiva dos fatos. É autobiográfico. E o autor continua anti-tabagista.

quinta-feira, 6 de junho de 2002

E um riso

Encontrei isto num desses blogs da vida. É pura bobagem...


Frase 2 do dia do site:
Tem que ter estilo para ser "jogada no vento" coberta de brincos, colares e anéis maravilhosos.

juro, não consigo parar de rir....
Um enigma

Recebi esta mensagem hoje, e fiquei realmente bobo, e feliz, contente, agradecido, envaidecido mesmo.

Há, há, há!!!! pensou que era mais um fã? Sou eu, bobo, só estou mandando um oi e queria falar que seu blog é realmente liiindo! Uma pista: eu sou parente da dona desse endereço que te manda o mail, você conhece mais alguém com sobrenome "Luz"?

Mil beijos...


Fiquei pensando, quem será, oh!, quem será?!? É você, oh, Mannuella?? - a única luz que vem à minha cabeça agora.

Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.


Tento impressionar demais. Expor-me demais. Existir demais. Ser demais. Ter demais. Sempre. Sempre eu, e mais do que eu.
Mas devia tentar menos, cada vez menos, até me apagar.


APAGUE AS PEGADAS

Separe-se de seus amigos na estação
De manhã vá à cidade de casaco abotoado
Procure alojamento, e quando seu camarada bater:
Não, oh, não abra a porta
Mas sim
Apague as pegadas!

Se encontrar seus pais na cidade de Hamburgo ou em outro [lugar
Passe por eles como um estranho, vire na esquina, não os [reconheça
Abaixe sobre o rosto o chapéu que eles lhe deram
Não, oh, não mostre seu rosto
Mas sim
Apague as pegadas!

Coma a carne que aí está. Não poupe.
Entre em qualquer casa quando chover, sente em qualquer [cadeira
Mas não permaneça sentado. E não esqueça seu chapéu.
Estou lhe dizendo:
Apague as pegadas!

O que você disser, não diga duas vezes.
Encontrando o seu pensamento em outra pessoa: negue-o.
Quem não escreveu sua assinatura, quem não deixou [retrato
Quem não estava presente, quem nada falou
Como poderão apanhá-lo?
Apague as pegadas!

Cuide, quando pensar em morrer
Para que não haja sepultura revelando onde jaz
Com uma clara inscrição a lhe denunciar
E o ano de sua morte a lhe entregar
Mais uma vez:
Apague as pegadas!

(Assim me foi ensinado.)



(Bertold Becht)
Mas, se o Encontro, ali, foi com a Senhora Prudência, antes, foi a figura da História.

... que o encontro com a história se faça viajem.


Encontro

Era uma dessas mulheres que não se usam mais.
Vestes de trevas e vidrilhos.
Cabeleira trágica.
Olheiras suspeitas.
O grito horizontal da boca surgiu da noite.
Sumiu pela última porta do poema.


(Mario Quintana - Esconderijos do Tempo)



Viagem

Viajar! Perder paises!
Ser outro constantemente
Por a alma não ter raízes.
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E da ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem!
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é terra e céu.


(Fernando Pessoa - Mensagem)
A prudência de Willian Blake, de velha, feia e rica, lembrou-me o poema Encontro, do Mario Quintana. (ver o próximo post)

terça-feira, 4 de junho de 2002

Outro dia desses, minha irmã (foto: ) comentou que esse negócio de blog é uma coisa de adolescente, uma agendinha boba. Detestei o comentário. Tudo bem que estou muito longe de concretizar o intento original desta página eletrônica, que era ter um espaço para escrever coisas que poderiam ser boas para outras pessoas (mesmo porque, cá prá nós, isso tudo é muito pretencioso). Mas, agendinha?? Acho que, às vezes, conseguimos ir além disso. Bom... já que é assim, vamos ao post de hoje.

Querido diário,

Sei que estou sumido, que não tenho escrito muito. Perdoe-me, mas isto se deve, quase exclusivamente, ao feriado. Pois bem, falemos dele, então.

Fui visitar a minha mãe. Não fui só, fui acompanhado do Linus (nossa segunda lua-de-mel). Foi ótimo para nós, e para minha mãe também.

Para mim foi muito bom, pois além de tomar chás feitos com ervas colhidas na hora, de assar pão de queijo caseiro, fazer um monte de comidas boas e passar um friozinho (e ter um par de pés para esquentar o meu), pude voltar às minhas raízes. Quer dizer, levando em conta que moro em minha cidade natal, e que minha mãe foi quem de lá se mudou, ir para a casa dela foi como voltar pro útero. Enfim, foi como deixar de ser uma vaca sem sino...

Estes dias assistimos a muitos filmes. Farei comentários sobre eles depois, mas, agora, neste post familiar, vou falar somente de um: A Partilha.



ADOREI!!! Despretencioso e delicioso. Resolvi assitir ao filme após ter comprado sua trilha em CD (por apenas 3 reais, creia, meu diário). O CD é tão bom quanto o filme - tem até a desaparecida Lady Zu. Mas, depois de rir muito, tive um pequeno acesso emotivo. Senti saudades de meus irmãos, sobretudo de meu distante irmão. Fiquei pensando nos pequenos desentendimentos cotidianos (ou quotidianos, à portuguesa??) que atrapalham a nossa convivência. Em como evitá-los. Resultado: descobri que uma das melhores e piores coisas que há em uma família é: a familiaridade. (risos, amarelos)

Claro!!! Dentro da família nos damos a liberdade de falar e ser o que queremos, e, às vezes, essa licença ultrapassa todos os limites recomendáveis. Logo, para viver bem em família, há que se ter muita virtude, né meis?

Virtude. Parece-me a palavra chave. Pois, sendo rasteiro, a virtude é justamente aquilo que nos dá o bom entendimento dos limites, uma vez que, uma virtude, quando é excessivamente (para mais ou para menos) empregada, pode resultar em seu contrário. Exemplifico. Com a Prudência, a virtude que mais tenho tentado exercer.

A Prudência é a capacidade de sabermos como agir, quando agir e até quando agir. Uma pessoa prudente deve, para melhor agir, conhecer bem a situação em que se encontra e a si mesma (nas alegorias antigas, ela se olha em um espelho), além de escutar os conselhos dos sábios, e as palavras da experiência. Mas, ela não deve se deter por muito tempo nessa análise de conjunturas: toda ação possui um tempo correto de duração e um momento específico para ocorrer. Esperar muito, analisar muito a situação, na tentativa de ser prudente, leva à paralisia; ou seja, à imprudência de perder a Hora (palavra mais do Pessoa, né?), de ficar para trás - junto de tudo aquilo que pereceu, que arruinou-se - na passagem do cortejo do tempo. Quem espera nunca alcança. Ser precipitado? Outra imprudência: executar as coisas antes de seu ponto de amadurecimento - como diz o ditado: o apressado come cru. Deu pra entender??... as virtudes são um fio de navalha. E, das lâminas, a melhor nos assuntos de família (forte, né?).

Bom, já começo a me embolar, querido diário. E a escrever demais, com tão pouca qualidade. Então, seremos prudentes: Até a próxima!