domingo, 5 de maio de 2002

Lindo, sobre o nosso desencontro:

Cabe uma explicanção sobre o que senti:

Minha voz ficou na espreita, na espera
Quem dera abrir meu peito
Cantar feliz
Preparei para você uma lua cheia
E você não veio
E você não quis

Meu violão ficou tão triste, pudera
Quisera abrir janelas
Fazer serão
Mas você me navegou
Mares tão diversos
E eu fiquei sem versos
E eu fiquei em vão


Mas, tudo passou e continuamos felizes, juntos.

Sobrou desse nosso desencontro
Um conto de amor
Sem ponto final
Retrato sem cor
Jogado aos meus pés
E saudades fúteis
Saudades frágeis
Meros papéis


(Lua Cheia e Desencontro, Chico Buarque)
Sobre o Adeus

Prefiro que eu mesmo vá embora. A cada vez, quando quem parte é ele, o meu Lindus, tenho medo de que seja pra sempre. Que ele não volte. E, na janela, fico triste. Como na música de minha amiga Regina Freitas (em parceria com sua irmã Lúcia).

Dentada de Banguela

Tudo era contra tua ausência
Até o criado-mudo reclamou
E num acesso de incoerência
Até o pé da mesa me chutou
Com as notas que eu cantei
pra te chamar
Não pude pagar nem o aluguel
Na minha batucada sem cadência
O canto desse quarto se calou
Quis me afogar num copo d’água
E o braço da cadeira me puxou
(...)
Cega de saudades te enxerguei
E beijei a boca do fogão
(...)
Mas se também não voltares
Irei me eternizar numa janela
Pois saiba que a tua partida
Doeu que nem dentada de banguela
Doeu que nem dentada de banguela


(PS: Disse meu pai que a avó dele – que era banguela – , ao invés de bater nas crianças, mordia. ... e a dor era indescritível! Bem feito, vai brincar com o que não deve, dá nisso.)
Acho que no final esse blog vai ficar com a cara de um blog-normal: citação de poesias, letras de música, comentários de filmes, etc. e reticências... Será isso uma questão de gênero (gênero blog)? Será que esse gênero blog vai detonar com meu estilo (que é mais blerg que blog)?

Bom, mas já que é assim, vamos lá:

Dica cultural da semana
(dentro do tema nº 1: Da janela)



CHICO BUARQUE: Ele é conhecido como um dos maiores compositores brasileiros (isso todos sabem) – de fato, é o meu preferido. E, para minha mãe, o mais bonito também – apesar de que quando o vi pessoalmente fiquei petrificado com visão do mais feio nariz do mundo. Na sua obra, o tema da janela aparece ligado à imagem da mulher domesticada e enclausurada, afastada da vida pública, e da rua. ... suas personagens femininas estão com freqüência na janela e, portanto, na posição de quem fica à margem das coisas, vendo a vida e a banda passarem. – diz Adélia Menezes em Figuras do Feminino na Canção de Chico Buarque. E os leitores de Gilberto Freyre poderão reconhecer esta janela como parte da genética cultural brasileira. Mas eu acho que ela, a Adélia, se esqueceu de umas coisas: é pela janela que surgem a estrela de uma esperança, a nutrir essas mulheres; é também por onde são vistas as belezas da vida (que estão em seus dois lados); e por onde vazam tão íntimos sentimentos, que se tornam de todos e dotam a vida de sentido.


Ela e sua janela

Chico Buarque 1966


Ela e sua menina
Ela e seu tricô
Ela e sua janela, espiando
Com tanta moça aí
Na rua o seu amor
Só pode estar dançando
Da sua janela
Imagina ela
Por onde ele anda
E ela vai talvez
Sair uma vez
Na varanda

Ela e um fogareiro
Ela e seu calor
Ela e sua janela, esperando
Com tão pouco dinheiro
Será que o seu amor
Ainda está jogando
Da sua janela
Uma vaga estrela
E um pedaço de lua
E ela vai talvez
Sair outra vez
Na rua

Ela e seu castigo
Ela e seu penar
Ela e sua janela, querendo
Com tanto velho amigo
O seu amor num bar
Só pode estar bebendo
Mas outro moreno
Joga um novo aceno
E uma jura fingida
E ela vai talvez
Viver duma vez
A vida

Da janela... esse blog nasceu de um feliz encontro. Um dia minha cabeça disparou. Enquanto estava num ônibus, sem papel, caneta ou afins, ela começou a falar por si própria. Ficou assim, me contando coisas... na verdade, contando não, mas escrevendo. Eram textos inteiros; nem bonitos, nem feios, nem mesmo muito bons, mas completos, daqueles que a gente sempre tenta por no papel para dividir com os outros.
Dividir! Mas como? Chegando onde eu era esperado (por pessoas que muito admiro), encontrei um lugar, uma forma de compartilhar. Estas pessoas, sábias e divertidas, estavam lendo seus blogs. Foi assim...
Mas, uma nota ainda cabe nesta certidão de nascimento. Para quê veio ao mundo esta janela? Compartilhar meus textos-pensamentos, já o disse. Mas para além disto está a intenção de tornar públicos alguns dos meus mais íntimos e privados interesses, pensamentos e emoções. Não se trata de expor minha intimidade à íntima curiosidade dos outros, mas sim de gerar um espaço onde aquilo que me diz respeito vai de encontro à vida dos outros, criando uma ponte que nos une, um espaço de contato. Assim, não esperem que este seja um diário de minha vida particular! Nem mesmo algo totalmente impessoal. Somente um ponto onde possamos nos encontrar e, quem sabe, as coisas transformar.