terça-feira, 28 de outubro de 2003

conheci um poeta, com versando com um poeta – e um figurinista acompanhando. fiquei ali, olhando como se ali não estivesse. quase não falando. não era minha vez – mas a felicidade, essa sim era minha. eu vi um poeta falando com um ator, outro poeta, e um figurinista. e me escondi na casa que o álcool fez pra mim. eu vi, fui visto - mas era dispensável. o que queria, mesmo, era não estar ali. mas ficar totalmente recolhido no invisível. e melhor me deleitar com a felicidade do poeta e do ator, que conversavam com o poeta e o figurinista.

indispensável era estar – ou ser – felicidade para alguém.
de repente, descobri que as pessoas se querem escritoras ou poetas. querem jorrar textos não por ofício, ou amor à forma, à letra, à arte, à vida, ou ao que seja. escrevem por amor a si mesmas. e por desejar, do mundo, que mais amor recaia sobre si. então, me deixem – que não sou nada disso não. não sou poeta, não sou escritor, não sou gente que quer o amor do mundo. não escrevo por amor – às palavras, às coisas, à vida. mesmo que escrever faça parte de meu ofício, não o faço por arte ou atenção, mas pela necessidade. necessidade de sobreviver. necessidade de ser alguém, que faz alguma coisa, qualquer. por isso, nem sequer escrevo. só faço o que me dá um pouco de prazer, o que me faz ser alguém. mesmo que sem certeza alguma.

sexta-feira, 24 de outubro de 2003

PS: tenho deixado de fazer meus pequenos relatos de viagem - que tanto gosto. Estive no Rio, Belém do Pará, Catas Altas, mas não registrei nada... Pura falta de tempo. Mas, só pra constar, estou do Rio, de novo!!! Meu fim de semana promete: Antônio Cícero, Ana Cristina C., arte africana, um possível concerto no Municipal, muitos amigos, e meu lindin...
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

(Alberto Caeiro)



De repente, minha janela fechou... e assim ficou por muito tempo. Ausente estive de mim, de minha casa, do mundo. Há tempos, não tenho tempo de parar, abrir a janela, e observar a vida. Trabalho, trabalho muito. 9 horas, 18 horas, 24 horas, até uma da manhã... e sombra pouco tempo para fazer, e falar. Desculpem-me se a janela está fechada - entendam como alguém que saiu de férias, mas volta já.