domingo, 9 de junho de 2002

Tentando entender o que é a melancolia, procurei exemplos de compositores melancólicos na MPB. Lembrei-me de Cartola. Ninguém como ele, em suas músicas, conseguiu expressar tão bem este humor, nem triste/nem alegre, que permeia a vida daqueles que, conscientes de sua impotência frente à passagem do tempo, se acham sem lugar, poder ou função no mundo.



Que Sejam Bem-Vindos

Oh, Deus, não posso entender
porque vamos chorando,
se nossos cicerones são aves cantando.

Materialmente as flores,
deitam aroma sorrindo.
E ouço da natureza: 'Que sejam benvindos!'

O vento, de quando em quando,
num sussurro ameno,
obriga a toda floresta a nos fazer aceno.

É um festival de alegrias,
que me ponho a imaginar,
não sei se devemos rir ou chorar.








Autonomia

É impossível, nesta primavera, eu sei.
É impossível pois longe estarei,
mas pensando em nosso amor, amor sincero.

Ai, se eu tivesse autonomia.
Se eu pudesse gritaria:
‘Não vou, não quero.’

Escravizaram assim um pobre coração.
É necessária a nova abolição,
pra trazer de volta a minha liberdade.

Se eu pudesse brigaria, amor.
Se eu pudesse gritaria, amor:
‘Não vou não quero.’





Senhor!!!

Agora é para valer: minha amiga Marcie virou os homi (policial), e terá um bom motivo para responder SENHOR!! a todo instante. Parabéns, Senhora!
Quem quiser ouvir um bom intérprete de Debussy ao piano - e não tem o privilégio de ser amigo do Schroeder, que toca Jimbo's Lullaby como ninguém - pode experimentar ouvir as gravações do pianista Alexis Weissenberg, por exemplo.


Claude Debussy - Estou aqui, faz um bom tempo, tentando escrever uma pequena resenha impessoal sobre a obra de Debussy para este blog... inútil. Tudo o que escrevo me parece artificial, ou pequeno, pobre. Talvez porque sua obra me toque tão intimamente que desfaz o peso do meu corpo, e converte minha existência em som. Talvez porque sua música me soe tão fantástica... Fantástica; excelente palavra para descrever a obra de Debussy, e sua tentativa de ultrapassar o legado do romantismo na tradição musical francesa. Envolvido com as propostas estéticas de artistas como Mallarmé, Baudelaire, Verlaine, Camille Claudel, Poe, Debussy criou imagens sonoras de mundos exóticos e fantásticos, condensando sensações em sons. Afirmando-se veementemente como músico francês (opondo-se à onda wagneriana que inundava as salas de concerto), transformou sua obra numa das mais idílicas expressões do cosmopolitanismo parisiense. Incorporou à escrita musical ocidental sons orientais, como da música japonesa e das ilhas do pacífico. Buscou temas exóticos e sensoriais, como as estórias de ninfas, de faunos gregos e de casais da mitologia indiana. Buscando novas perspectivas musicais, e a criação de uma ambiência sonora encantada mas não sentimentalista ou caricata, Debussy absorveu com seu ouvido francês toda música, literatura, escultura, toda a arte que encontrou em seus colegas, e que viu nas exposições mundiais de Paris; mas não tentou reproduzir tais elementos estéticos, mas sim, utilizar seus recursos na criação de uma arte própria... tão fantástica quanto as viagens sensoriais e imaginárias que experimentamos ao descansar os olhos sobre estampas postais que representam lugares distantes e desconhecidos. Ignotos.

Na falta de um link para Estampes - minha preferida -, ouça o prelúdio A Catedral Submersa