quarta-feira, 26 de julho de 2006

para imprimir e colar na porta de casa


uma promoção Ajax Festa das Flores

responder é preciso

Creio que o comentário do meu irmão, categoria anta jùnior, merece uma resposta. Não pelo tom provocativo, mas por suscitar histórias. Histórias, pois bem, histórias. Estou aqui para completar as pesquisas para meu doutoramento em História, mas vou acaber é mestre em narrar histórias e estórias de vida. Pois, a maior parte do tempo em que estou em frente ao computador são dedicadas à saciar os anseios tupininquins, que em coro cantam:
Mande notícias do mundo de lá!
Diz quem fica...
E tem horas que só posso dizer:
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Então, nada de novo no front. Só a repetição desse nosso velho tema tão banal: calor e higiene.
Pois bem, admito que gosto de banho mais do que índio. Mas, devo dizer, como não sou bobo, aqui não ponho minhas barbas de molho. Tenho medo do preço da àgua, por isso me tornei o viciado em economia desse bem não tão natural e nem tão renovável aqui nesse mundo de Oh, meu Deus!
Nos primeiros dias, nada de traumatizar a população local. Foi um banho por dia, olhe lá. Naquele estilo: abre torneira, se molha; fecha torneira, se ensaboa; abre torneira, enxágüa.
Depois que me mudei, também mudei de hábitos. Dois banhos por dia, no mesmo esquema. Esse luxo não é produto do puro desvairio higienizante brasileiro, nem mesmo por alguma obsessão por água. Mas, puro reflexo do aumento da temperatura local dos 28 para os 34 graus.
O que não consegui conter, foi o impulso de limpar meu pequeno estúdio, logo que nele entrei. Quando me entregou as chaves, a proprietária (que é sempre muito solícita e de quem nada devo reclamar), me disse sorrindo: passei ontem o dia inteiro limpando o estùdio. Que bom, pensei.
Mas, por precaução, fui passar um paninho dentro do armário, antes de colocar minhas coisas - o paninho, de amarelinho, tornou-se cinzinha, quase pretinho. Não deu outra: passei a mão no meu vidro de dois litros de Ajax Festa das Flores (cuidadosamente escolhido no supermercado para que seu perfume não me causasse alergia - quanta frescura), e virei um tanto num balde. Acrescentei ÁGUA (olha a conta, seu herege!). Peguei uma bucha, e esfreguei. Esfreguei o armário, esfreguei o armário da cozinha, esfreguei as portas, esfreguei os acendedores de luz, esfreguei os lustres. De tudo escorria um caldo preto, que eu guardaria como nanquim, se uma caneta tinteiro tivesse. O lustre da cozinha, então, me tomou uma hora. Era um tal de dez anos de poeira misturado com óleo de fritura... no fim, parecia novinho, branquinho, branquinho.
Depois, foi a vez do chuveiro. Ou melhor, a ducha. Minha ducha é uma espécie de grande lata de sardinha branca que fica de pé dentro de um quartinho. A gente entra nela, abre a torneirinha de ÁGUA quente, depois e de ÁGUA fria, e pá pá pá pá pá toma banho, com aquele barulhão de ÁGUA caindo em lata (hoje esse barulho diminuiu um pouco, pois a senhoria me deu um tapete de plástico pra pôr lá dentro, que amortece o bombardeio de ÁGUA). Explicada a ducha, passo para a narrativa de sua limpeza.

Quando fui ao supermercado, comprei um produto fortíssimo, com desinfetante e o filho mais moço do diabo à quatro, para limpar minha lata de sardinha. Esse é um produto muito comum aqui, que serve para tirar o que eles chamam de calcário, dos metais da casa, como torneiras. Ou seja, pra tirar aquelas coisas brancas que se acumulam nos metais que ninguém limpa. Minha latinha tinha muito calcário. Calcário branco, calcário preto, calcário marrom. Muito calcário, muita craca mesmo.

Previnido, mas sem as tais barbas de molho, aproveitei minha ida às lojas Bloker (a versão local das Lojas Americanas), para comprar, na promoção, uma escovinha de limpeza. Escovinha na mão, produto contra cracária, e ÁGUA, parciomosiosamente gasta. Esfrega, esfrega, esfrega, e sai aquele caldo preto, agora com partículas sólidas de craca. Por fim, tirei tudo das partes da ducha em: que encosto. Ficou um restinho para a próxima tentativa. Meu espírito indígena vencido pelo cracário.
Ni qui acabei, tava exausto. Achei melhor ir dormir, e continuar minha saga na manhã seguinte. Dia seguinte, foi a vez do chão. Comecei com um paninho úmido, a Ajax Festa das Flores. Termeinei lavando duas vezes o chão, com um balde de ÁGUA, e Ajax. As flores fazim uma "reivi" lá dentro...

Foi quando comecei a reparar meis no prédio onde moro. Ao se entrar nele, sentimos o cheiro da cozinha comunitária (que é das mais limpas que vi aqui). É um misto de lixo acumulado com bafo de comida feita com as janelas fechadas. Assim, logo alcança-se a escada, que felizmente não tenho que usar, pois moro no térreo. A dita escada tem um carpete bi-color: vinho onde se pisa, cinza com floquinhos de poeira, onde ninguém toca.

Passando por isso, sentia-se o odor do banheiro comunitário (atualmente já visitado pela Festa das Flores). Depois, você ouve uma música eletrónica vindo de uma porta, luzes coloridas saindo pelas frestas da mesma. Ao entrar: A FESTA DAS FLORES.

Um tupiniquim em seu paraíso artificial.

Hoje, o que mais medo me dá não é a Nazareth, mas sua escada...

Pararauê-re-re-re-re-re-re-re-re……………………………….