domingo, 12 de maio de 2002

Dúvida - Mannuella! Oh, Mannuella! Cadê você?
Muitas imagens, muitas imagens.
Muitas mensagens, muitas palavras.
É febre, depois passa.
Já que estou no meio desta enxurrada de dedicatórias – e com Divinópolis na cabeça -, dedico, a todos os visitantes da janela, um poema.

Momento

Enquanto eu fiquei alegre, permaneceram
um bule azul com um descascado no bico,
uma garrafa de pimenta pelo meio,
um latido e um céu limpidíssimo
com recém-feitas estrelas.
Resistiram nos seus lugares, em seus ofícios,
constituindo o mundo para mim, anteparo
para o que foi um acontecimento:
súbito é bom ter um corpo pra rir
e sacudir a cabeça. A vida é mais tempo
alegre do que triste. Melhor é ser.

(Adélia Prado – Bagagem)
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Só para não deixar passar em branco. No nosso aniversário, o Linus me presenteou com um jantar num restaurante francês. Um restaurante muito agradável, um ótimo atendimento, uma comida excelente; assim começou a noite. Memorável. Animados pelo vinho e empolgados pelas bailarinas de Toulouse-Lautrec, houve espaço até para uns beijinhos. Depois, ... bom, depois passamos para mais uma modalidade de nosso tema nº 2: O Silêncio. Evoco Adélia Prado (Bagagem).

Uma vez visto

Para o homem com a flauta,
sua boca e mãos,
eu fico calada.
Me viro em dócil,
sábia de fazer com veludos
uma caixa.
O homem com a flauta é meu susto pênsil
que nunca vou explicar,
porque flauta é flauta,
boca é boca,
mão é mão.
Como os ratos da fábula eu o sigo
roendo inroível amor.
O homem com a flauta existe?


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O Lindus migrou. Foi ver a mãe. E eu, fiquei aqui: sem cobertor de orelhas.Talvez seja bom, e ele esteja descansando de sempre acordar com alguém olhando. Não posso dizer que estou morrendo de saudades; mas tô com um frioziiinnho!!

A Mel andou chorando, de tão feliz-tão triste. Chorar faz bem, e um sorriso bem mais. Descontrole, só como estilo. E eu, retribuo as figuinhas com um poema.

Grande Desejo

Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia,
sou é mulher do povo, mãe de filhos, Adélia.
Faço comida e como.
Aos domingos bato o osso no prato pra chamar o cachorro
e atiro os restos.
Quando dói, grito ai,
quando é bom, fico bruta,
as sensibilidades sem governo.
Mas tenho meus prantos,
claridades atrás do estômago humilde
e fortíssima voz para cânticos de festa.
Quando escrever um livro com o meu nome
e o nome que eu vou pôr nele, vou com ele a uma igreja,
a uma lápide, a um descampado,
para chorar, chorar e chorar,
requintada e esquisita como uma dama.

(Adélia Prado – Bagagem)


Apesar de hoje ser dia das mães, o presente vai para o irmão distante. Por algum milagre da alta tecnologia, tivemos uma grande conferência familiar pela net; data esta que marcou a iniciação da Mamãe Slu como internauta. Até o Rodd e o Kako apareceram. Bom, como Mamãe Slu sempre diz: É isso aí meu irmão!


Noturno

O gato, que mora no mundo para sempre perdido do cinema silencioso, atravessa o país do tapete, onde se abrem flores falsamente tropicais.

No pé da escada, por força do hábito, a avozinha morta começa a tricotar mais um pulôver.

Por trás de suas barbas, no retrato da parede, o olhar do avô indaga: - Para quê?

De repente, na copa, o refrigerador compõe ruidosamente a garganta, enquanto estremecem de medo os frágeis habitantes do porta-cristais: - Meu Deus, meu Deus, ele agora vai fazer um discurso!



(Mario Quintana – Esconderijos do Tempo)


Essa dona aí é a América (na verdade, ela é um fragmento de uma Alegoria da América realizada por Phillipe Galle e Marcus Gheeraerts, entre 1590 e 1600). A cara dela é a de quem acabou de se levantar da cadeira por conta do impulso de uma grande descoberta. Ela é uma ótima tradução para o que a gente sente quando reconhecemos uma nova idéia, daquelas que podem revolucionar os caminhos da ciência e do mundo. Por isso, resolvi inventar uma sessão para esse blog, que se chamará Descobri a América. Assim, quando essa mocinha aparecer de novo, grite: Eureca!

Nada como um exemplo para deixar as coisas claras:

Para melhor despir os camarões de seu solene fraque, lave-os, mergulhe-os em água e retire-os quando a água ameaçar ferver (ou quando, pressentindo a iminente nudez, eles ficarem rubros de vergonha). Assim, perde-se menos carne do que quando são limpos crus.

Resfrie-os sob a torneira e retire o fraque, a começar pela cabeça. Na cauda, quebre delicadamente a casca firmando as unhas dos polegares, de modo a retira-las sem mutilar o crustáceo.


(Frei Beto - Comer como um Frade)
Eu estava numa festa, conversando com um ex-professor. Falávamos sobre livros, livrarias e sebos, quando ele comentou sobre uma moça alta, muito bonita (muito bonita mesmo, segundo ele), mas muito séria, que começou a trabalhar há pouco tempo. É, G.H. ..., já está famosa!!!