quarta-feira, 2 de outubro de 2002

HISTÓRIA

Nossa história é assim:
Vamos pras Índias!

Dias e dias os horizontes se repetem
- Olha! Melhor mesmo é buscar vento mais pro fundo

Uma tarde um marujo disse:
- Ué! Que terra é essa?

Velas baixaram E desembarcaram

- Terra como é teu nome?
Cortaram pau Saiu sangue
- Isso é Brasil!

No outro dia
o sol do lado de fora assistiu missa
Terra em que Deus anda de pés no chão!

Outros chegaram depois Outros Mais outros
- Queremos ouro!
A floresta não respondeu

Então
eles marcharam por uma geografia-do-sem-lhe-achar-fim

Rios enigmáticos apontavam o Oeste
A água obediente conduziu o homem

Começou então um Brasil sem-história-certa
A terra acordou-se com o alarido de caça
de animais e de homens

Mato-grande foi cúmplice nas novas plantações de sangue

Mulher foi espremer filho no escondido
E veio o negro
Trouxe o sol na pele
e uma alma de nunca-mais carregada de vozes

Foi desbeiçar terra
Alargaram-se as lavouras
Brasil encheu-se de queixas de monjolo
Sol espalhou verão nos canaviais das fazendas
O mato escondeu escravos
com inscrições de chicote no lombo

Em noite rural
Os bruxos reuniram-se para experimentar forças contra o branco
Deus montou num trovão que se quebrou na floresta
Árvores tinham medo que o céu caísse

Brasil-nenê foi crescendo...

O sol cozinhou o homem
e a geografia determinou os acontecimentos

Um dia
O capitão Pedro Teixeira com 1000 canoas ô ô
entrou águas-arriba no Amazonas
acordando aquela imensidão sem dono

O Brasil embarrigou para o Oeste

(Raul Bopp)