sexta-feira, 19 de setembro de 2003




Visto de longe, parecia flutuar... Erguido sobre o promontório, era uma enorme caixa retangular acoplada a uma caixa oval. Ao seu redor, um jardim colorido havia sido recortado pelas bifurcações de um caminho tão sinuoso quanto um pensamento distraído. Mais de perto, podia-se ver, através da fachada de vidro, os movimentos no seu interior. À porta, sob uma marquise de inesperado recorte, havia uma imensa escultura, um corpo nu de mulher. Depois dela, um amplo salão – recheado com colunas de alumínio, mesas de jogo, roletas, fichas, taças e muita gente – confirmava as expectativas: era o edifício sonhado por JK, projetado por Niemeyer, decorado pelo paisagismo de Burle Marx e pela escultura de Zamoyski. Era o Cassino da Pampulha, que, nos três anos que separaram sua criação da proibição do jogo no Brasil, em 1946, revolucionou os hábitos belorizontinos quase tanto quanto modernizou a arte de construir.
Dentre aquela gente eufórica que circulava pelo salão, uns se distraiam contemplando a face esquerda do edifício (aquela película de vidro) a se abrir em uma ampla vista para o lago; amplidão que se refletia na parede oposta, coberta de espelhos rosados. Outros, subindo ou descendo as rampas de alabastro que ligavam o salão ao mezanino, repetiam o espanto do prefeito da cidade: Nunca havia visto um edifício com rampa, em lugar de uma escada.
Seguindo pela rampa que ladeava os espelhos, o som da música aumentava, ecoando instrumentos de orquestra, vozes de renomados cantores e passos double de vedetes. Ali em frente, o corredor se abria numa sala oval: o grill-room, todo transparente, todo de vidro. Inclusive o chão, que brilhava luzes coloridas sob os pés de quem dançava. Acima da pista de dança, o estratégico recorte do teto produzia um impressionante efeito acústico: os sons da música executada no palco, ao passar por ali, tornava-se mais potente, sendo novamente reduzido ao atingir as mesas, do outro lado do salão. Nas mesas, outras inovações da época eram servidas: o filet tournedor e a maionese, preparados pelo chef Lucas. Já o palco, em forma de feijão, tinha o moderno requinte de ser, também, um elevador capaz de conduzir os artistas do grill-room ao bar do primeiro piso, ou aos camarins subterrâneos.
Além da festa, além do luxo, esse cenário da modernidade tinha, para JK, um sentido político: o de ligar a utopia dos novos tempos à visão daqueles que, há menos de 50 anos, haviam criado Belo Horizonte. O Cassino da Pampulha seria, então, a versão concreta e renovada de um projeto nunca realizado pela Comissão Construtora da Nova Capital: o Cassino do Parque Municipal.


Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa que máximo isso! Estudo história em BH e trabalho no Museu da pampulha,o antigo cassino e penso muito em fazer uma pesquisa sobre o tema, afinal o cassino da pampulha foi um marco notável na nossa capital...òtima a história!
se tiver mais informações entre em contato: claudielectra@hotmail.com ou claudiocmro@yahoo.com.br
Obrigado!