quarta-feira, 10 de agosto de 2005


Até Pensei
(Chico Buarque - 1968)


Junto à minha rua havia um bosque
Que um muro alto proibia
Lá todo balão caía
Toda maçã nascia
E o dono do bosque nem via
Do lado de lá tanta ventura
E eu a espreitar na noite escura
A dedilhar essa modinha
A felicidade
Morava tão vizinha
Que, de tolo
Até pensei que fosse minha

Junto a mim morava minha amada
Com olhos claros como o dia
Lá o meu olhar vivia
De sonho e fantasia
E a dona dos olhos nem via
Do lado de lá tanta ventura
E eu a esperar pela ternura
Que a enganar nunca me vinha
Eu andava pobre
Tão pobre de carinho
Que, de tolo
Até pensei que fosses minha

Toda a dor da vida
Me ensinou essa modinha
Que, de tolo
Até pensei que fosse minha


3 comentários:

Anônimo disse...

E afinal de contas, que olhar é esse? Ontem li uma coisa tão bacana, que falava sobre o artista. Não sei transcrever muito bem, mas falava sobre essa coisa de o artista proporcionar a quem o assiste uma sensação única, para que essa pessoa saia daquele local com um sentimento que ele não entende o que é exatamente, mas que gera uma transformação em sua alma. Esse lance do olhar e como se olha algo é tão importante no artista, porque é através de seu olhar que os outros poderão ver com os olhos e sentir na alma o que tiver que ser, o que fizer sentido para ele... Com relação aos balões da vida, vc me mostrou uma perspectiva bem interessante da questão...a dos balões que não nos pertence e me lembrei de uma parábola oriental onde um sábio chega a um sítio onde a família vivia do leite de uma vaquinha e a horta estava largada, a casa estava feia, enfim, a vaquinha sustentava aquela casa e ninguém queria pensar em outra coisa. Numa noite ele pegou a vaquinha e a jogou numa ribanceira (deixe os protetores de animais ouvirem isso). O aprendiz não entendeu aquela atitude, mas foi compreender tempos depois. Ao voltarem depois de alguns meses àquela casa a encontraram reformada, a horta bem cuidada, a mais linda daquela região e a família também havia mudado... Ao perguntar à família o que acontecera, o aprendiz escutou que quando a vaquinha sumiu eles tiveram que encontrar outra forma de tocar a vida... Acho que é um pouco isso... Vacas vão pro brejo (com docinho e tudo - menos os brigadeiros que coloquei no bolso) e perdemos alguns balões pela vida que precisam ser perdidos...O difícil é aceitar e entender que nem todos nos pertencem...

UFA! Te cansei, né? rs

Anônimo disse...

Afinal, é sobre o olhar, sobre arte ou sobre a filosofia da vaca que estamos falando? não sei, não sei.
E a vaca, bem, essa já foi pro brejo mesmo...

Anônimo disse...

Estamos falando sobre a arte do olhar ou a arte de olhar, então...e dessa eu gosto e entendo bem.... Como bom taurino gosto do Belo e quando algo me salta aos olhos gosto de olhar... Agora, sinceramente, eu desatinei a rir da vaca comendo docinhos e pior ainda ao imaginar a pobrezinha com ódio pq tinha perdido o ônibus... Imagina a vaca correndo toda lambuzada...