Quatro glosas e um epílogo a propósito do episódio de violência policial na Favela Naval de Diadema.
500 anos de escravidão (legal até 1888, ilegal depois)
Trabalho forçado, trabalho de menores, confinamento, senzala, calabouço, palmatória, vara, cacete, porrete, tronco (ciclo do pau), açoite, chicote, látego, chibata, relho, bacalhau, vergalho (ciclo do couro), corrente, máscara de flandres, gargalheira, colher de ferre, anjinho, grilhões, calceta, peia, ferro de marcar (ciclo do ferro), mutilação, estupro, mulheres grávidas jogadas ao forno (o ventre explode: plof!), força, assassinato (ciclo do homem).
500 anos de latifúndio
Servidão, expropriação, expulsão, exploração, cambão, balcão, destruição de cerca, incêndio de casa; capanga, pistoleiro, polícia, delegado, estupro de mulher e filha, surra, clister, castração, tocaia, assassinato.
500 anos de patriarcalismo
Casa grande, mulheres e filhas confinadas, mandadas para o convento, dominadas, caladas, vigiadas, casadas à força, espancadas, estupradas, assassinadas.
500 anos de violência institucional
Na Colônia, índios preados e escravizados, Palmares arrasado, Felipe dos Santos amarrado a cavalos e esquartejado, Tiradentes enforcado e esquartejado; no Império, Frei Caneca fuzilado, 30 mil mortos na Cabanagem, rosários de orelhas de cabanos no pescoço dos soldados; na República Velha, presos degolados na revolta Federalista (os que pronunciavam o “jota” à castelhana), Canudos arrasada, seus prisioneiros degolados (os que se negavam a dar um Viva à República), fuzilamento sumário de rebeldes n Rio de Janeiro e em Santa Catarina durante a revolta Armada, surra de espada nos soldados, chibata no lombo dos marinheiros, dezesseis marinheiros asfixiados entre nuvens de cal na solitária na Ilha das Cobras sob a guarda da Marinha; no Estado Novo, na Delegacia de Ordem Política e Social, espancamento de presos políticos nos rins e na sola dos pés com canos de borracha, pedaços de nádegas tirados com maçarico, esponja embebida de mostarda na vagina das prisioneiras, assassinato; na outra ditadura, prisão, seqüestro, bofetão, espancamento, choque elétrico, estupro, cassetete no ânus e na vagina, assassinato; na era da Constituição cidadã, Candelária, Vigário Geral, Carandiru, Eldorado, Corumbiara, Manaus, Diadema, extorsão, tortura, massacre, pena de morte sem julgamento.
Pau-Brasil
Tortura
(diz a Aeronáutica)
Fácil de fazer:
Maltrata, maltrata
Até morrer.
(Pontos e Bordados - José Murilo de Carvalho)
Castor, o construtor - O Castor é o construtor do reino animal... Se você observar suas represas, capazes de bloquear fortes torrentes de água, verá que existem diversas entradas e saídas. Quando constrói sua casa, o Castor sempre se preocupa em preparar diversos pontos de escape. Esta é uma prática lição... para que não nos deixemos encurralar, pois se não concebermos algumas alternativas, estaremos represando o curso de nossas vidas. Um produtor é caracterizado por sua operosidade, e o Castor sabe que a limitação impede a produtividade. O Castor tem dentes afiados, sendo capaz de derrubar grandes árvores. Imagine, portanto, o estrago que seus dentes são capazes de fazer no lombo de seus inimigos... (uhuhu-ahahahaaaaaaa) para ser capaz de compreender o Castor, você deve reconhecer o poder do trabalho e conscientizar-se da satisfação proporcionada pelo bom cumprimento de uma tarefa. Precisa aprender que, para concretizar um sonho, é necessário contar com o apoio do grupo... quando aprendemos a trabalhar em harmonia com os outros, desenvolvemos um forte sentimento comunitário, e o resultado é a união de todos os envolvidos. Castor... ensina-me a concretizar meus sonhos, neles incluindo os outros.

