domingo, 5 de maio de 2002

Acho que no final esse blog vai ficar com a cara de um blog-normal: citação de poesias, letras de música, comentários de filmes, etc. e reticências... Será isso uma questão de gênero (gênero blog)? Será que esse gênero blog vai detonar com meu estilo (que é mais blerg que blog)?

Bom, mas já que é assim, vamos lá:

Dica cultural da semana
(dentro do tema nº 1: Da janela)



CHICO BUARQUE: Ele é conhecido como um dos maiores compositores brasileiros (isso todos sabem) – de fato, é o meu preferido. E, para minha mãe, o mais bonito também – apesar de que quando o vi pessoalmente fiquei petrificado com visão do mais feio nariz do mundo. Na sua obra, o tema da janela aparece ligado à imagem da mulher domesticada e enclausurada, afastada da vida pública, e da rua. ... suas personagens femininas estão com freqüência na janela e, portanto, na posição de quem fica à margem das coisas, vendo a vida e a banda passarem. – diz Adélia Menezes em Figuras do Feminino na Canção de Chico Buarque. E os leitores de Gilberto Freyre poderão reconhecer esta janela como parte da genética cultural brasileira. Mas eu acho que ela, a Adélia, se esqueceu de umas coisas: é pela janela que surgem a estrela de uma esperança, a nutrir essas mulheres; é também por onde são vistas as belezas da vida (que estão em seus dois lados); e por onde vazam tão íntimos sentimentos, que se tornam de todos e dotam a vida de sentido.


Ela e sua janela

Chico Buarque 1966


Ela e sua menina
Ela e seu tricô
Ela e sua janela, espiando
Com tanta moça aí
Na rua o seu amor
Só pode estar dançando
Da sua janela
Imagina ela
Por onde ele anda
E ela vai talvez
Sair uma vez
Na varanda

Ela e um fogareiro
Ela e seu calor
Ela e sua janela, esperando
Com tão pouco dinheiro
Será que o seu amor
Ainda está jogando
Da sua janela
Uma vaga estrela
E um pedaço de lua
E ela vai talvez
Sair outra vez
Na rua

Ela e seu castigo
Ela e seu penar
Ela e sua janela, querendo
Com tanto velho amigo
O seu amor num bar
Só pode estar bebendo
Mas outro moreno
Joga um novo aceno
E uma jura fingida
E ela vai talvez
Viver duma vez
A vida

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