domingo, 12 de maio de 2002

A Mel andou chorando, de tão feliz-tão triste. Chorar faz bem, e um sorriso bem mais. Descontrole, só como estilo. E eu, retribuo as figuinhas com um poema.

Grande Desejo

Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia,
sou é mulher do povo, mãe de filhos, Adélia.
Faço comida e como.
Aos domingos bato o osso no prato pra chamar o cachorro
e atiro os restos.
Quando dói, grito ai,
quando é bom, fico bruta,
as sensibilidades sem governo.
Mas tenho meus prantos,
claridades atrás do estômago humilde
e fortíssima voz para cânticos de festa.
Quando escrever um livro com o meu nome
e o nome que eu vou pôr nele, vou com ele a uma igreja,
a uma lápide, a um descampado,
para chorar, chorar e chorar,
requintada e esquisita como uma dama.

(Adélia Prado – Bagagem)

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