quinta-feira, 20 de novembro de 2003
...comecei a postar esse comentário há alguns dias, quando previa uma melhora na qualidade da minha vida recente. o que eu não poderia jamais imaginar era que aquele momento de felicidade seria apenas o prenúncio de mais uma onda de escuridão completa. as janelas se fecharam novamente, e eu fiquei preso aqui, tentando decidir a vida. ainda tenho muito pelo que lutar: amigos, amor, família, e um resto de apreço por meu trabalho. ficarei mais um tempo longe - uma semana, duas, não sei -, mas voltarei com uma solução para mais esse problema. uma solução definitiva, pelo menos até a próxima mudança dos ventos. rezem por mim!
quinta-feira, 6 de novembro de 2003
terça-feira, 28 de outubro de 2003
indispensável era estar – ou ser – felicidade para alguém.
sexta-feira, 24 de outubro de 2003
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
(Alberto Caeiro)
De repente, minha janela fechou... e assim ficou por muito tempo. Ausente estive de mim, de minha casa, do mundo. Há tempos, não tenho tempo de parar, abrir a janela, e observar a vida. Trabalho, trabalho muito. 9 horas, 18 horas, 24 horas, até uma da manhã... e sombra pouco tempo para fazer, e falar. Desculpem-me se a janela está fechada - entendam como alguém que saiu de férias, mas volta já.
terça-feira, 23 de setembro de 2003
sexta-feira, 19 de setembro de 2003
Éeeeh... tinha que ser uma certa Mel-issa prá falar uma coisas dessas prum pobre blogueiro que anda trabalhando mais que jumento saltimbanco!!
Bom, para que eu não continuasse tão em dívida com essa menina, postei meu texto sobre o Cassino, que, na verdade, faz parte do trabalhão que anda me ocupando muito, e muito.
Ando com saudades de ler os blogs amigos, de encontrar os amigos, e escrever...
Visto de longe, parecia flutuar... Erguido sobre o promontório, era uma enorme caixa retangular acoplada a uma caixa oval. Ao seu redor, um jardim colorido havia sido recortado pelas bifurcações de um caminho tão sinuoso quanto um pensamento distraído. Mais de perto, podia-se ver, através da fachada de vidro, os movimentos no seu interior. À porta, sob uma marquise de inesperado recorte, havia uma imensa escultura, um corpo nu de mulher. Depois dela, um amplo salão – recheado com colunas de alumínio, mesas de jogo, roletas, fichas, taças e muita gente – confirmava as expectativas: era o edifício sonhado por JK, projetado por Niemeyer, decorado pelo paisagismo de Burle Marx e pela escultura de Zamoyski. Era o Cassino da Pampulha, que, nos três anos que separaram sua criação da proibição do jogo no Brasil, em 1946, revolucionou os hábitos belorizontinos quase tanto quanto modernizou a arte de construir.
Dentre aquela gente eufórica que circulava pelo salão, uns se distraiam contemplando a face esquerda do edifício (aquela película de vidro) a se abrir em uma ampla vista para o lago; amplidão que se refletia na parede oposta, coberta de espelhos rosados. Outros, subindo ou descendo as rampas de alabastro que ligavam o salão ao mezanino, repetiam o espanto do prefeito da cidade: Nunca havia visto um edifício com rampa, em lugar de uma escada.
Seguindo pela rampa que ladeava os espelhos, o som da música aumentava, ecoando instrumentos de orquestra, vozes de renomados cantores e passos double de vedetes. Ali em frente, o corredor se abria numa sala oval: o grill-room, todo transparente, todo de vidro. Inclusive o chão, que brilhava luzes coloridas sob os pés de quem dançava. Acima da pista de dança, o estratégico recorte do teto produzia um impressionante efeito acústico: os sons da música executada no palco, ao passar por ali, tornava-se mais potente, sendo novamente reduzido ao atingir as mesas, do outro lado do salão. Nas mesas, outras inovações da época eram servidas: o filet tournedor e a maionese, preparados pelo chef Lucas. Já o palco, em forma de feijão, tinha o moderno requinte de ser, também, um elevador capaz de conduzir os artistas do grill-room ao bar do primeiro piso, ou aos camarins subterrâneos.
Além da festa, além do luxo, esse cenário da modernidade tinha, para JK, um sentido político: o de ligar a utopia dos novos tempos à visão daqueles que, há menos de 50 anos, haviam criado Belo Horizonte. O Cassino da Pampulha seria, então, a versão concreta e renovada de um projeto nunca realizado pela Comissão Construtora da Nova Capital: o Cassino do Parque Municipal.
terça-feira, 9 de setembro de 2003
sexta-feira, 5 de setembro de 2003
Pois passara noites e noites a sonhar
que não se conseguia acabar de vestir
nunca
(Adília Lopes - Maria Cristina Martins)
E passei dias e dias esperando
todo trabalho findar
para as tardes e tardes seguintes
ir ao cinema tomar sorvete namorar
Quem me quer disse
bem
Meu querer disse
sim
Minha vida arrematou
não
que a história não é bem assim
quinta-feira, 14 de agosto de 2003
segunda-feira, 21 de abril de 2003
E circulando lenta, a idéia, Túlio,
Foi se fazendo matéria no meu sangue.
A obsessão do tempo, o sedimento
Palpável, teu rosto sobre a idéia
Foi nascendo
E te sonhei na imensidão da noite
Como os irmãos no sonho se imaginam:
Jungidos, permanentes, necessários
E amantes, se assim for preciso.
Tocar em ti. Recriar castidade
Não me sabendo casta, ser voragem
Ser tua, e conhecendo
Ser extensão do mar na tua viagem.
(Hilda Hilst - Moderato Cantabile, em Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão)
quinta-feira, 17 de abril de 2003
aos homens que agem
Tarsila não pinta mais
Com verde Paris
Pinta com Verde
Cataguases
Os Andrades
Não escrevem mais
Com terra roxa
NÃO!
Escrevem com tinta Verde
Cataguases
Brecheret
Não esculpe mais
Complastilhina
Modela o Brasil
Com barro Verde
Cataguases
Villa Lobos
Não compõe mais
Com dissonâncias
De estravisnqui
Nunca!
Ele é a mina Verde
Cataguases
Todos nós
Somos rapazes
Muito capazes
De ir ver de
Forde Verde
Os azes
De Cataguases
(Marioswald - Oswaldario dos Andrades)
durante um ano, inteiro, comemoramos o espanto: estamos juntos. juntos e sentindo que nada poderia ser tão bom, tão acertado, tão necessário. e eu não esperava... de onde vem tanto amor, tanta alegria? como podem se casar tão bem dois corpos e duas vontades? de onde vem tudo isso? é absurdo, é incomensurável, é real. um ano de namoro, e queremos ainda mais...
... e eu, particularmente, quero sempre a emoção de viver do deslumbre e desta perfeita espiral
na curva do umbigo seu
um meu desejo
se escondeu.
hoje me descobro parco e tosco; sua resposta é certeira, me desarma
Película
Você entrou
Pediu licença
E agora é parte.
Usamos os mesmos óculos
e não digo que enxergamos
da mesma forma.
Suas lentes são mais limpas,
mais claras.
Mas você entrou,
e agora já não precisa pedir licença.
Meu coração é aberto.
Minha poesia tenta ser.
E as chaves lá de casa você já tem.
Você agora é parte
de coisas que eu não imaginava.
Como estar com sua blusa,
dividir os copos,
a escova de dentes
e um chuveiro feliz.
Como cantar juntos
músicas de amor
de vozes primorosas.
Desde a sua entrada,
minha vida é duas
e sua.
Dividimos os anjos,
as estrelas e as angústias.
Antes de deitarmos,
olhamos para o céu
da janela grande
e rezamos.
E você entra.
Faz parte.
E eu,
feliz como se entendesse a vida,
a poesia e o amor,
definitivamente
não quero mais licenças.
(poema do meu Lindus)
domingo, 6 de abril de 2003
E agora, um bolino especial para um ser de cuja pele se fazem as adargas; parece-se com vacas e muito mais com mulas, o rabo é de um dedo, não tem cornos, tem uma tromba de comprimento de um palmo que encolhe e estende. Nada e mergulha muito, mas em mergulhando logo toma fundo, e andando por ele sae em outra parte (segundo o padre Fernão Cardim, lá pelos 1600), a nossa querida
Escultora e educadora, Jeanne Louise Milde nasceu em Bruxelas (Bélgica), em 1900. Em 1929, veio para o Brasil como membro da Missão Pedagógica Européia. Esta Missão, constituída por ilustres educadores europeus como a psicóloga Helena Antipoff, foi convidada pelo presidente de Minas Gerais, Antônio Carlos de Andrada, com o objetivo de impulsionar a Reforma do Ensino Primário e Normal do estado. Em Belo Horizonte, Milde lecionou na Escola de Aperfeiçoamento de professoras primárias, ensinando modelagem, pintura e história da arte na disciplina de Trabalhos Manuais. Parte das esculturas que ali criou foi destinada a ornamentar espaços públicos das cidades mineiras, como parques e praças. Produziu também obras para uso privado, como peças para cemitérios, jardins e residências. Entre suas obras mais conhecidas estão as “Adolecentes” (1937), esta modelagem em gesso que a artista desejava fundir em bronze. Nesta obra percebe-se a inserção de Milde em uma tradição escultórica que une aspectos acadêmicos e modernos. Milde foi a primeira artista atuante em Belo Horizonte a ter uma formação acadêmica, o que se evidencia na forma clássica que confere ao corpo humano. Por outro lado, sua escultura também foi influenciada por estilos artísticos de caráter moderno (a exemplo do simbolismo), o que resultou na sua busca de simplificação das formas e de uma liberdade expressiva. Note-se que, como os escultores simbolistas da Europa, Milde dá à base desta escultura um aspecto inacabado. Este recurso aumenta a expressividade da obra, além de significar uma subversão da estética acadêmica (que buscava a construção de esculturas com acabamento refinado). No conjunto de sua obra, esta modelagem é representante do interesse da artista em produzir temas e figuras femininos. A partir da renovação modernista dos anos 40, com a chegada em Belo Horizonte de Alberto da Veiga Guignard e a construção do complexo da Pampulha, Milde diminuiu sua participação na cultura mineira, pois passou a ser considerada tradicionalista devido à sua ligação com artistas acadêmicos. Ainda assim, a artista ficou conhecida por esculpir obras com temática feminina, e em suportes variados, como bronze, gesso e madeira. Faleceu em Belo Horizonte (MG), em 1997.
Canto de Oxum
Nhem-nhem-nhem
Nhem-nhem-nhem-xorodô
Nhem-nhem-nhem-xorodô
É o mar, é o mar
Fé-fé xorodô...
Xangô andava em guerra,
Vencia toda a terra,
Tinha ao seu lado Inhansã
Pra lhe ajudar.
Oxum era rainha,
Na mão direita tinha
O seu espelho onde vivia
A se mirar.
Quando Xangô voltou,
O povo celebrou.
Teve uma festa que
Ninguém mais esqueceu.
Tão linda Oxum entrou,
Que veio o rei Xangô
E a colocou no trono
Esquerdo ao lado seu.
Inhansã apaixonada
Cravou a sua espada
No lugar vago que era
O trono da traição.
Chamou um temporal
E no pavor geral
Correu dali gritando
A sua maldição.
(Toquinho/Vinícius)
Quando o crime acontece
como a chuva que cai
Como alguém que chega ao balcão com uma carta importante após o
horário de atendimento: o balcão está fechado. Como alguém que quer
prevenir a cidade contra uma inundação, mas fala uma outra língua: ele
não é compreendido. Como um mendigo que bate pela quinta vez numa
porta onde já recebeu algo quatro vezes: pela quinta vez tem fome.
Como alguém cujo sangue flui de uma ferida e que espera pelo médico:
seu sangue continua caindo.
Assim chegamos e relatamos que se cometem crimes contra nós.
Quando pela primeira vez foi relatado que nossos amigos estavam sendo
mortos, houve um grito de horror. Centenas foram mortos então. Mas
quando milhares foram mortos e a matança era sem fim, o silêncio tomou
conta de tudo.
Quando o crime acontece como a chuva que cai, ninguém mais grita
“alto!”.
Quando as maldades se multiplicam, tornam-se invisíveis.
Quando os sofrimentos se tornam insuportáveis, não se ouvem mais os
gritos.
Também os gritos caem como a chuva de verão.
(Bertolt Brecht)
segunda-feira, 10 de março de 2003
Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo - é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fonte?
(Carlos Drummond de Andrade - O amor natural)
Confesso o desprezível ciúme que me abraçou estes dias, apertando o peito ao ver o nome do meu mais secreto prazer na boca de todos. Virginia Woolf. Mais desprezível me sinto quando percebo que a culpa desse renascimento da minha autora predileta se deve ao mais belo filme que assisti recentemente: As Horas. Se este filme foi capaz de nos trazer novamente a vontade de ler Virginia Woolf isto se deve, acredito, menos por haver sido construído a partir de referências à vida e obra desta escritora, que por uma característica que os une. O filme, como a escrita de Virginia Woolf, envolve-nos como o som que vem de uma bem conduzida orquestra. Uma melodia que nos capta o pensamento, que nos retira do transcorrer do tempo que é comum a todos e nos lança em seu próprio tempo, em seu próprio andamento, para nos conduzir através de uma seqüência imagens que cria. Imagens habituais e cotidianas mas que, não esperávamos!, são pegas em flagrantes de íntima beleza. No filme, tudo é consonância - fotografia, texto, atuações e trilha. Mais que grandes nomes, temos ali unidade e equilíbrio; ou seja, beleza. Uma beleza à altura da obra de Virgínia Woolf. Uma beleza que nos pega pela mão, e nos conduz suavemente por onde ela deseja que passemos. Uma beleza de suavidade e tensão que faz dos minutos, que faria das horas, um instante apenas de total contemplação.
E assim é a obra de Virginia Woolf. O tempo que narra não é o tempo do mundo, nem mesmo o da história. É o tempo que transcorre no interior que cada um de seus personagens; tempos íntimos e pessoais que, às vezes, se interceptam ou se chocam. Os acontecimentos que dão andamento ao que se conta não são palpáveis ou visíveis ao observador comum. São as pequenas transformações que cada um sofre com o passar do tempo. Não do tempo que nos marca a carne e nos deteriora exteriormente. Mas aquele que altera pouco a pouco os ânimos e paixões dos personagens, mudando-os em consonância ou dissonância com a forma como são vistos, de fora, pelos outros; com as posições e os códigos de um mundo que, em vão, tenta controlá-los. Resulta disto um tipo inusitado de narração, que é antes uma grande cadeia de descrições. Para contar uma estória, Woolf apresenta-nos uma bolha de sabão. Na superfície da bolha, nos faz ver um reflexo, uma imagem de uma pequena parcela do mundo que logo se explode dando lugar a outra bolha, e outra imagem. E desta, faz brotar outra, e mais outra, numa infinita e encantadora sucessão.
Agora, porém, era verão. Os pássaros haviam-na despertado. Como cantavam! – atacando a madrugada assim como uma porção de meninos-cantores atacam uma trota gelada. Obrigada a escutar, estendera a mão para sua leitura favorita – um compêndio de História – e gastara as horas, entre as três e as cinco, pensando nos bosques de rododendros em Picadilly, quando o continente inteiro, conforme ela entendia, ainda não dividido por um canal, era um só, habitado por monstros com corpo de elefante, pescoço de foca, erguendo-se lentamente e, supunha ela, latindo; o iguanodonte, o mamute e o mastodonte, dos quais, presumivelmente, descendemos, refletia, abrindo bruscamente a janela.
Levou cinco segundos no tempo real, mas muito mais no tempo imaginário, para distinguir Grace, que chegava com a louça azul sobre uma bandeja, do monstro grunhidor coberto de couro, que, quando a porta se abriu, se achava na iminência de derrubar uma árvore na penumbra verde, cheia de vapor. Naturalmente, sobressaltou-se quando Grace depôs a bandeja e disse: - Bom dia, madame. – E pensou: “Ela é doida”, ao sentir pousar em seu rosto aquele olhar vago, dirigido em parte à fera no charco, em parte à criada de vestido estampado e avental branco.(Virginia Woolf - Entre os Atos)
quinta-feira, 6 de março de 2003
sábado, 1 de março de 2003
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2003
G.H., isso vai em cheio no meu espanto...
De uma vez por todas
1º eu tenho o ar terrivelmente preocupado de demonstrar que eu não penso e que me dou conta disto, que tenho o cérebro fraco, mas eu penso que todos os homens têm primeiro o cérebro fraco - e em seguida que mais vale ser fraco, que mais vale estar em um estado de abdicação perpétua em face do espírito da gente. É um melhor estado para o homem, é um estado mais normal, mais adaptado a nosso sinistro estado de homens, a esta sinistra pretensão dos homens de querer.
Eu tenho a imaginação estupefata.
(Antonin Artaud, Linguagem e vida)
Vou escrever aberto
Sem papas na linguagem
Sem receios esferográficos
e gana de reconhecimento
Vou ver se sento
Olho pro vento
E enxergo o mosquito
adestrado
Que voou daqui pra aí
Para dizer:
Fica comigo
Sonhe com os anjos, pois daqui, mesmo de longe, te amo muito. E, em pensamento, visito seus sonhos para abraçar-lhe o coração.
Beijos.
domingo, 23 de fevereiro de 2003
.............................. e aquele homem lhe fugia, impossível, para o corpo de uma mulher.